inesperado
portugal e o novo imposto sobre os ricos
grave? não. estranho? sim. tudo começou com as ‘generosas’ declarações de dois ou três ricos, nos estados unidos e na europa, que resolveram dizer que estranhavam não pagar mais impostos. warren buffett, um deles, ainda há dias conseguiu grandes mais-valias na compra de uma posição significativa no capital do bank of america. na europa, foi, pelo menos, a dona da l’oréal, aqui há meses envolvida em notícias sobre relações de influência com responsáveis do estado francês.
estas duas personalidades tiveram essas inéditas declarações e o tema correu mundo.
portugal, claro, sempre sequioso de um bom debate, imediatamente agarrou na ideia. manda, porém, a verdade dizer que, em vários países, este debate tomou um lugar importante, sendo diversas as conclusões anunciadas.
o governo espanhol de josé luís zapatero, por exemplo, socialista como se sabe, embora em fim de ciclo, já disse que não quer. o chanceler austríaco, werner faymann, da mesma família política, assumiu a posição contrária.
em portugal, a generalidade das forças políticas admitiu uma nova tributação dos rendimentos mais elevados, embora ainda não se saiba o modo. mas, com o balanço, logo se foi mais adiante.
e quem? nem mais nem menos do que o presidente da república, cavaco silva, que veio falar da necessidade de se voltar a taxar as sucessões e as doações. aí, os dois partidos do governo exprimiram a sua discordância. com cautela institucional, fizeram questão de a resposta ser por via partidária e não pelo governo.
em minha opinião, estiveram bem nessa prudência. quanto a cavaco silva, as suas inesperadas declarações tiveram, pelo menos, um mérito: o de mostrar que não se contradiz com a linha política seguida na sua campanha eleitoral. com efeito, recordemos que, já nessa altura, surpreendentemente, na segunda metade da pugna eleitoral, defendeu uma carga fiscal acrescida para aqueles que têm rendimentos mais elevados.
adequado
convém haver convergência institucional
como já aqui também se escreveu, acontece pela primeira vez esta situação institucional de convergência política entre presidente, governo e maioria parlamentar, em início de mandatos dos três órgãos de soberania.
escuso de recordar o que defendo quanto à necessidade de uma permanente sintonia institucional. mas será a necessidade dessa sintonia e dessa convergência incompatível com a expressão de posições diferenciadas? naturalmente, depende da frequência com que isso ocorre, do tema em que sucede, das consequências que implica e da ligação do protagonista em questão, em termos de antecedentes, à matéria em causa.
cavaco silva explicou, de modo breve, nas referidas declarações, as razões pelas quais entende que essas transmissões devem ser oneradas fiscalmente.
sinceramente, não me recordo de nenhum apego especial do presidente da república em relação a esta matéria. como também não me lembro de o ouvir defender essa posição durante o período de responsabilidade do governo anterior. nada disso impede que o tenha feito agora. mas, obviamente, não é inócuo que tenha assumido essa opção. será para repetir com frequência? não acredito.
o mais adequado é, naturalmente, que presidente da república e primeiro-ministro falem em privado sobre estas matérias e que os mais altos responsáveis do estado não manifestem, em público, posições diferentes em matérias relevantes, como a política fiscal. mas, repito, pode acontecer, uma vez por outra, de modo diverso.
sublinho: grave? não. surpreendente? também não.
variado
é aceitável dirigentes e treinadores divergirem nalgumas questões
às vezes, a diferença de opinião acontece também nos clubes de futebol, entre responsáveis de diferentes níveis de poder interno. o exemplo mais recente, nesta área, é o do sporting clube de portugal. e as declarações não coincidentes que foram produzidas no mesmo dia, domingo passado, após a derrota, em casa, com o marítimo.
o presidente do clube, luís godinho lopes, veio queixar-se das decisões do árbitro, enquanto o treinador domingos paciência, minutos depois, disse que não se queixava da arbitragem. dias após, o presidente da assembleia geral do clube, eduardo barroso, que é, ao mesmo tempo, comentador desportivo na tvi 24, dizia, a esse propósito, que é necessário ‘afinar o discurso’.
ora aqui está um caso em que não vejo problema nenhum na diferença de opiniões. é compreensível que o presidente do clube aborde questões que extravasam a vida interna do clube e que o treinador se dispense de o fazer.
tempos houve em que os treinadores foram deixados sozinhos nesses combates, o que lhes acarreta óbvio desgaste. e nem todos o suportam do mesmo modo.
por exemplo, mesmo josé mourinho tem passado alguns tempos mais complicados, falando só de polémicas verbais. de qualquer modo, é notório que, apesar da intensidade desses combates, consegue que a sua equipa comece a alcançar níveis de rendimento cada vez mais elevados. perspectiva-se um duelo extraordinário entre barcelona e real madrid e, quero acreditar, com mais calma fora dos campos de jogo.
a propósito de jogos com o barcelona, ‘tiro o chapéu’ ao futebol clube do porto, que, na final da supertaça europeia, com a equipa orientada por guardiola, jogou com o seu adversário como ainda não tinha visto ninguém fazer.
o fc porto entrou para jogar de igual para igual, fez marcação no campo todo e, se não fosse o erro de guarín, a oferecer o primeiro golo ao barcelona, não sei qual teria sido o resultado. aí está o caso de um sistema de governo, o do futebol clube do porto, em que cada um sabe muito bem o que tem a dizer e o que pode dizer. e isso, sem dúvida, ajuda muito à eficácia da gestão.