não é bem carreira, porque nunca gostou de pensar nas coisas assim a longo prazo, explicou numa entrevista à agência lusa. prefere que se diga que são quarenta anos de escrita de canções, desde que lançou em 1971 o álbum os sobreviventes, e que mútuo consentimento é só o «continuar» desse trabalho.
mútuo consentimento, que sai no dia 12, surge cinco anos depois de ligação directa. pelo meio ainda editou um álbum ao vivo no teatro municipal maria matos, em lisboa.
com o habitual grupo de assessores – os músicos que o acompanham há vários anos – sérgio godinho gravou 12 novas canções, que surgiram de um método habitual de composição nestes 40 anos: «olhar à volta e ver o que se passa», disse.
«eu o que faço é tentar contar coisas, falar de coisas, fazer interrogações à minha maneira e saber que há pessoas que são tocadas por isso», sublinhou o cantautor, hoje com 66 anos.
essas interrogações são «contos de um instante», como canta numa das canções do novo disco e tanto podem falar de amor, como intermitentemente, como da situação do país e das incertezas do presente, em acesso bloqueado.
o álbum é também o resultado de um renovado «mútuo consentimento» do que tem feito em todos estes anos: «o disco vive de partilhas nossas entre os assessores e eu, de partilhas com os outros, com os convidados, com os públicos com o qual foi sempre construído».
na verdade, estas canções que surgem em mútuo consentimento foram quase todas reveladas ao vivo no final do ano passado em dois concertos em lisboa e no porto.
«foi uma espécie de partilha. disse: estão aqui estas canções novas, vocês gostam?», recordou.
depois desse primeiro rascunho, convidou alguns artistas portugueses a entrarem no disco, porque as músicas assim pediam esse «mútuo consentimento».
ao pianista bernardo sassetti e ao percussionista antónio serginho, que participaram nesses concertos-rascunho, juntaram-se ainda hélder gonçalves, dos clã, david santos (o mentor de noiserv), a roda de choro de lisboa ou ainda francisca cortesão, conhecida como minta.
o disco abre com uma «uma declaração poética em relação à música», um tema precisamente intitulado mão na música, com mais de seis minutos, durante o qual sérgio godinho, num registo quase de spoken word cadenciado, vai desfilando o que pensa – e sabe – sobre a música.
a fechar foi incluída a canção faz parte, que sérgio godinho recuperou do espetáculo os três cantos, com josé mário branco e fausto bordalo dias.
quarenta anos de escrita de canções – de mais de duas centenas de canções – são vistos por sérgio godinho como «um rio que está a fluir» que não é separável da vida pessoal.
«tive e tenho uma vida muito rica, tive muitos assuntos problemáticos, mas não sinto um peso. aprendi sempre com essas coisas, por isso [os 40 anos] são-me leves», resumiu.
a apresentação oficial do álbum mútuo consentimento está marcada para o dia 16 no centro cultural olga cadaval, em sintra.
além das canções novas, sérgio godinho garante que estará sempre com um pé nas canções mais conhecidas do passado, porque tem gosto em partilhá-las com as pessoas, em «mútuo consentimento».