Levantado das cinzas

Amanhã, 10 anos depois dos atentados de 11 de Setembro, políticos e familiares das vítimas vão reunir-se num bosque que foi plantado no Ground Zero. Por essa altura, duas enormes cascatas de água começarão a fazer barulho, incessantemente. Inscritos numa faixa de bronze em torno das cascatas vão estar os nomes das vítimas dos ataques.…

as propostas para a reconstrução do world trade center provocaram um debate acalorado. como poderia a arquitectura atender às necessidades da cidade e ao mesmo tempo homenagear aqueles que morreram nos ataques terroristas? familiares das vítimas têm visões diferentes entre si, enquanto as pessoas que vivem na zona não a querem ver transformada num santuário da catástrofe.

as propostas de reconstrução começaram a aparecer logo após os atentados. o concurso lançado pelas autoridades foi ganho pelo arquitecto daniel libeskind, que propôs a construção da freedom tower, que será o maior edifício dos eua e o segundo maior do mundo, com 1776 pés de altura (541 metros), em memória da revolução americana. a proposta, no entanto, foi considerada vulnerável a ataques terroristas, acabando por ser alterada. larry silverstein, o investidor que detém o aluguer daquela área, contratou o arquitecto david childs. o projecto que está a nascer é pois o resultado do confronto entre os dois arquitectos, «uma estrutura monolítica de vidro reflectindo o céu e coberto por uma antena esculpida». a polémica não ficou por aí. em maio de 2011, plantas detalhadas da torre foram reveladas na internet. os media questionaram o uso dos planos para um ataque terrorista. o chefe da polícia de nova iorque, ray kelly, chegou a descrever a freedom tower como «o alvo número um para um ataque terrorista».

há quem diga que a freedom tower, agora rebaptizada de 1 wtc, se trata apenas de um bloco de escritórios. os símbolos mais óbvios são as duas cascatas quadradas do memorial, com os nomes das vítimas, situados numa praça com 32.374 m2. mas até a inscrição dos nomes gerou polémica. uns preferiam a ordem alfabética, outros o acaso e até houve quem defendesse os nomes por grupos de locais – quem estava na torre, no solo, em que avião ou no pentágono.

além da praça, encontra-se em fase de construção um museu. vai exibir carros esmagados e carros de bombeiros, metal torcido das antigas torres e fotografias e recordações das vítimas. será também possível ver o muro de cimento que ao travar as águas do rio hudson permitiu a construção das torres gémeas. aos novos edifícios (a torre 7 já foi inaugurada em 2007) junta-se um terminal de transportes ferroviários desenhado pelo espanhol santiago calatrava. a torre 2, que será maior que o empire state building, encontra-se parada.

a grande incógnita permanece: quando estarão prontos os edifícios? a autoridade portuária, que detém o espaço, estima a conclusão das obras para 2037, e larry silverstein disse que embora já tenham sido gastos biliões de dólares o ground zero ainda é «um buraco no chão».

desde 11/09, todos os argumentos e angústias recaíram sobre a forma como a reconstrução pode expressar e homenagear o significado do evento. em 2008, era difícil imaginar como a autoridade portuária de nova iorque poderia terminar o memorial de 8 hectares a tempo do 10.º aniversário. num futuro não tão distante, o world trade center vai voltar a fazer parte da silhueta de manhattan.

rita.osorio@sol.pt