surpreendente
o aumento da procura turística foi uma boa notícia
cada um na sua cidade deve ver o mesmo – embora, naturalmente, mais numas do que noutras.
em lisboa, basta andar na rua para, desde há uns bons meses, encontrar mais turistas do que nos anos anteriores. tendo escritório numa rua perto do marquês de pombal, desde há cinco anos, nunca encontrei tanto estrangeiro a passear por aquelas paragens.
na zona de belém, entre os jerónimos e a casa dos respectivos pastéis, as filas de turistas são mais compridas do que alguma vez me recordo. claro que houve a lisboa-94, a expo-98, o euro-2004 – mas faço a comparação com anos sem eventos excepcionais.
foram já divulgados números que comprovam esse aumento do número de visitas e de dormidas.
é bom, é animador, é motivador. portugal precisa destas notícias e de meditar nelas.
há razões exógenas para este reforço na procura de portugal? claro que sim! por exemplo, os problemas de insegurança existentes noutras regiões do globo levam muitas pessoas a preferir zonas mais tranquilas.
mas, seguramente, há causas que são nossas. para além da riqueza e da beleza dos nossos recursos naturais, salientem-se os investimentos feitos, quer pelo estado quer por privados, em excelentes unidades turísticas, na protecção do ambiente, na valorização das nossas principais atracções e monumentos, no desenho de roteiros valiosos e, também, na promoção em mercados tradicionais e noutros que só recentemente foram objecto do investimento em campanhas publicitárias.
temos, pois, um sector que não tem razões de queixa deste ano. e é bom realçar que representantes dessa área de actividade não o esconderam. puseram de lado os queixumes que se ouvem um pouco por todo o lado e assumiram essas boas novidades de aumentos de 6 e 8% no primeiro semestre deste ano (respectivamente em número de hóspedes e de dormidas).
em junho, a variação homóloga foi superior a 10%, nos dois indicadores. e o verão, tudo o indica, confirmou essa evolução.
como escrevia aqui há algumas semanas, a economia real – ou uma parte dela – parece que teima em manter a sua actividade, apesar da crise grave no sistema financeiro e das agitações constantes nos mercados de capitais.
evidente
não deitar foguetes!
o turismo deu boas notícias, as exportações, como sabemos, também.
contraditório com a retracção da economia nacional? não. prova a aposta dos nossos agentes económicos na diversificação de mercados-alvo e, também, na especialização e valorização dos seus produtos.
as exportações portuguesas vão crescendo mais do que todas as previsões feitas pelas entidades especializadas, mesmo já este ano. têm crescido bem acima dos dez por cento.
com franqueza, estas e outras realidades devem ser elevadas ao discurso oficial. hoje em dia, um pouco por toda a europa, parece que há vergonha em falar de dados motivadores. manda a verdade dizer que durão barroso tem feito um esforço nos seus discursos para contrariar ímpetos de pessimismo que, de quando em vez, chegam da parte de responsáveis de diferentes organizações.
obviamente, não se deve deitar foguetes seja com o que for. muito menos com os números dos dois últimos meses, que mostram uma ligeira redução do desemprego, porque esses tímidos recuos têm a justificá-los uma conhecida sazonalidade.
mas temos de crescer, a economia europeia tem de crescer.
não entrando em medidas como os eurobonds, sobre os quais há muitas dúvidas cá e lá, uma certeza temos: é necessário que a economia cresça. para isso, há que capitalizar a banca e importa que o bce baixe a taxa de juro para que possa ser financiado o investimento reprodutivo. simples? parece! e, nestas medidas, parece ser fraco o risco e serem grandes as possibilidades de resultados razoáveis.
quando escrevo este artigo ainda nenhuma dessas decisões foi tomada.
diferente
uma cimeira sem chefes de estado ou de governo
já agora: seria possível o presidente do bce, o presidente do banco mundial, o presidente do conselho europeu, o presidente da comissão europeia e a directora-geral do fmi reunirem e tentarem chegar a conclusões?
falo em reunião de três dias, de uma semana, se for preciso. não faz sentido andar cada um a dizer a sua coisa sobre a situação da economia e as previsões para o desenvolvimento.
como pode alguém levar a sério três entidades que andam a impor programas de ajustamento drásticos a vários países quando não estão de acordo sobre o rumo que a economia, em geral, vai tomar?
as contradições que vamos ouvindo dos responsáveis dessas instituições – a directora-geral do fmi a dizer que estamos quase a entrar numa recessão mundial, o director do banco mundial a dizer que não, o presidente da comissão europeia a garantir que a europa vai continuar a crescer – provocam uma enorme barafunda.
julgo que o mundo agradeceria ver essas entidades reunirem sem presidentes ou chefes de governo.
como tenho escrito vezes sem conta, os cidadãos comuns e os investidores em especial têm a noção de que ainda não mudaram as regras financeiras, os produtos mais ou menos ‘tóxicos’, as garantias desproporcionadas para mais ou para menos. a crise do valor ainda não levou a mudança de valores, geradora de nova confiança no sistema.
não querendo cometer nenhuma ousadia, será que ficaria mal a durão barroso propor uma tal iniciativa? sem merkel nem sarkozy, mesmo sem obama, nem medvedev ou putin, nem quaisquer outros líderes mundiais, da china, do japão ou de onde for. só os líderes dessas organizações, talvez com uma participação do secretário- -geral da onu ou do alto comissário para os refugiados.
faz impressão alguma sensação de letargia e de rotina a que se vai assistindo nos líderes políticos.
o tempo não está para rituais, para preconceitos, para receios, para resignações. meia semana, uma semana de uma cimeira como essa seria muito importante para o mundo. principalmente para os países que estão com mais dificuldades no crescimento e no endividamento perceberem e sentirem que há lógica, há sentido, há inovação na resposta a dar a tudo o que o que está a inquietar as sociedades de que fazemos parte.