em sentido contrário ao das autoridades educativas norte-americanas, professores e cientistas evidenciam o papel que aprender a escrever à mão tem no desenvolvimento das capacidades motoras e da linguagem.
illinois, indiana e hawaii são os três estados norte-americanos cujos departamentos de educação já assumiram que nas suas escolas já não é obrigatório ensinar a letra cursiva.
limitaram-se a aplicar as directivas do common core standards, um documento adoptado por 46 dos estados norte-americanos que visa uniformizar os programas e métodos lectivos e em que a caligrafia deixou de ser mencionada.
o common core pretende que os programas escolares se concentrem no que é «relevante no mundo real, reflectindo o conhecimento e as aptidões de que os jovens americanos precisam para ter sucesso na universidade e nas suas carreiras».
num memorando dirigido a todas as escolas, a autoridade estadual de educação do indiana indica que neste ano lectivo «as escolas podem decidir continuar a ensinar escrita cursiva como norma local, ou podem decidir deixar de a ensinar, para centrar o currículo em áreas mais importantes».
em vez de aprender a «desenhar» a letra, os alunos podem aprender a escrever à mão, mas em letra de forma, como as letras que aprendem a ‘teclar’ nos computadores: «espera-se que os alunos se tornem competentes a escrever num teclado», refere o memorando.
a presidente da associação de professores de português, edviges ferreira, disse que em portugal «prevalece o texto manuscrito», mesmo com a introdução dos computadores magalhães nas escolas.
«o magalhães não substitui a escrita manual, existe para os alunos fazerem pesquisas», indicou.
edviges ferreira indicou que é importante que os alunos escrevam «de maneira independente, personalizada» e que o texto manuscrito é a maneira de «manterem a sua identidade».
no entanto, reconhece que «com um horário sobrecarregado» a tendência dos professores é cada vez mais para se concentrarem «nas competências de escrita e compreensão» e não há tempo nem necessidade de «uma caligrafia perfeita».
«tem que ser legível, mas o mais importante é que os textos tenham boa estrutura e ligação», indicou.
nos estados unidos da américa (eua), o debate polariza muitas opiniões, desde os que concordam que com os programas tão cheios não é importante gastar tempo a ensinar caligrafia, até aos que lamentam a perda da «personalidade» da escrita e salientam mesmo que aprender a escrever em cursiva faz bem ao cérebro.
por exemplo, os benefícios da escrita cursiva são reconhecidos pela associação britânica de dislexia, que salienta que ao escrever cada palavra sem tirar a caneta do papel este «movimento fluido» melhora a velocidade de escrita e o conhecimento da ortografia.
no caso específico das crianças disléxicas, estas conseguem criar uma melhor «memória física» das letras porque as escrevem num movimento único e fazem uma distinção clara entre as letras maiúsculas e minúsculas, refere a associação.
um estudo publicado na revista science em 2009 evidenciava que a escrita cursiva muda as ligações neuronais do próprio cérebro, tornando as crianças mais fluentes e ajudando na solidificação da aprendizagem.
mas uma responsável pelo sistema público de ensino do colorado, citada por um jornal de denver, indicou que «nas escolas americanas a tendência é para ter mais tecnologia», destacando que quanto menos os alunos se tiverem que preocupar com a forma mais tempo terão para o conteúdo.
veiga simão, ex-ministro da educação e responsável por algumas das principais reformas no sector nos anos 70, disse à agência lusa que não é avesso a experiências, mas que antes de experimentar qualquer coisa é preciso perguntar antes «porquê» e avaliar. «o que muitas vezes não sabemos fazer em portugal», realçou.
lusa/sol