chora-se de alegria. roberto medina e a sua equipa posicionam-se de frente para a porta principal da cidade do rock. estão emocionados. ao fim de meses a preparar um recinto com 150 mil metros quadrados, aguardam a entrada das centenas de pessoas que, desde manhã, fazem fila para ver elton john, katy perry, rihanna ou a brasileria cláudia leite. vai começar o verdadeiro rock in rio – o do rio de janeiro.
às 14h em ponto, dá-se a ordem de abertura de portas. os brasileiros estão ansiosos e quando posam o pé no relvado sintético, que protege grande parte do chão desta ‘cidade’, dão pulos de alegria. ouvem-se gritos, tiram-se as primeiras fotografias, abraça-se roberto medina. o organizador deste festival de música, considerado um dos primeiros testes para os acontecimentos desportivos que irão ocorrer no rio de janeiro até 2016, mostra-se satisfeito: «este é o evento mais perfeito que fizemos do ponto de vista do detalhe. aliás, o sucesso de um evento como este é o detalhe».
a começar, por exemplo, com uma nova zona de diversão que, segundo roberta medina, a equipa vai procurar “importar” para lisboa em 2012. a rock street é a avenida que une a zona do palco mundo – o principal e onde tocam red hot chilli peppers ou os metallica, hoje e amanhã – à tenda electrónica. faz lembrar um bairro de nova orleães, com as suas casas de madeira colorida, as suas varandas com flores e as portas abertas para a rua com bares, aqui transformados em restaurantes, lojas de merchandising, etc. num coreto, já se treina o jazz que animará «os caricaturistas e as cartomantes» durante a noite. este é o espectáculo preparado para os brasileiros «que não conhecem uma cidade do rock assim, como já foi feita em portugal», salienta roberta.
para os cariocas, o rock in rio tem um triplo significado: há dez anos que não se realiza aqui um evento como este (os bilhetes esgotaram em quatro dias), aqui vão encontrar-se três gerações de espectadores – os que estiveram há 26 anos no primeiro rock in rio de todos e que, tal como ontem, viram os paralamas do sucesso em palco, e respectivos netos – e será um grande teste para a ‘prefeitura’ da cidade maravilhosa antes dos eventos que o rio irá acolher.
«vou-me esforçar para vir todos os dias ao festival», assegura o presidente da câmara do rio de janeiro, eduardo paes, explicando que este local será «o coração dos jogos olímpicos» em 2016. o momento não poderia ser mais importante para a cidade e paes acredita que o rio vai continuar a mostrar que é «a cidade mais glamourosa e calorosa do mundo». agora com três vantagens acrescidas: «é boa para morar, para fazer negócios e para curtir». a segurança é já um investimento nacional e durante o campeonato do mundo 2014, por exemplo, será até mais fácil prevenir distúrbios – nenhum jogo do mundial de futebol levará tanta gente ao mesmo tempo como o rock in rio. só ontem estiveram cem mil pessoas no recinto.
o primeiro português em palco
«aplausos para a lenda do rock/pop português, o grande rui veloso». o palco sunset é um dos mais pequenos da cidade do rock, mas reúne à sua volta brasileiros de todas as idades. antes de o palco mundo abrir, é aqui que se concentra a festa da música; e neste momento rui veloso já está de guitarra na mão e é apresentado a todos por ed motta. com andreas kisser, dos sepultura, o trio fica cerca de uma hora em palco a tocar jimi hendrix, dead purple ou eric clapton. o público reage, agita o corpo, canta e responde ao pedido de motta: são muitos os aplausos de cada vez que o pai de chico fininho se destaca com a sua guitarra. «gostei especialmente do ‘layla’», conta rui veloso no final da actuação.
esta foi a primeira vez que tocou «música de outros», um reportório escolhido integralmente pelo brasileiro ed motta e que não teve tempo para ensaiar. «houve poucos ensaios, nenhum deles corridos. mas o público foi fantástico». e foi.
só que, apesar da recepção, rui veloso não acredita que esta poderá ser o começo de uma presença assídua no brasil. «nunca quis ser um artista internacional, dá muito trabalho. tem de se andar muito de avião…».
opinião oposta têm os the gift. nuno gonçalvesconsidera que esta é «uma oportunidade de ouro» para dar a conhecer o seu nome, especialmente agora que irão lançar um álbum no brasil. «é já terça-feira».
a banda veio a convite dos dinamarqueses the asteroids galaxy tour, e vão fechar o palco sunset do primeiro dia de rock in rio. esperam uma recepção idêntica à de rui veloso; pelo menos a organização diz que este é um público «que contagia».
roberto medina explica que, em 1985, foi a primeira vez que se iluminou a plateia, e não só os cantores. «muitos não aceitaram isso». mas no brasil era impossível não mostrar quem estava do lado de lá a aplaudir. «em portugal e em espanha, fala-se da gastronomia… aqui fala-se das pessoas».
certo é que na europa é «mais fácil a relação com o poder», o que ajuda na organização de um mega-evento como este. por isso, londres é já apontada como a próxima cidade a receber um evento europeu do rock in rio. na américa do sul, medina diz que o espectáculo viajará até ao méxico em 2013. «dá trabalho. mas sempre que se abre o portão, a gente pensa: ‘valeu a pena!’».
*o sol viajou a convite da embratur, instituto brasileiro de turismo