Nos camarins do Rock in Rio ‘ninguém pede carne’

Ingrid Berger, responsável pelos camarins do Rock in Rio, só não fez dois festivais e conta que quando conheceu Eric Clapton julgou que «ia morrer».

desde quarta-feira passada que mal dorme e passa os dias a assegurar que todos os desejos dos artistas são cumpridos. «a equipa da rihanna foi um sem fim de pedidos. começaram de manhã e só terminaram à noite», conta ingrid berger, responsável pelos camarins do rock in rio, que já lidou com quase todos os artistas internacionais, de eric clapton a whitney houston.

o primeiro chegou a ir buscá-lo ao aeroporto para um espectáculo e, ao contrário do esperado, encontrou «um ‘cara’ amassado, de ressaca, a descer do avião com mau-humor. só grunhia, parecia um cão. julguei que ia morrer». já bryan ferry surpreendeu-a pela sua «gentileza, elegância e educação», mas há muitos cantores que nem chegam a dirigir-lhe palavra – preferem ficar sozinhos, tal como prince, cujo pedido mais extravagante foi querer jantar sozinho num restaurante. «sem ninguém, nem um empregado de mesa».

apesar das dificuldades do trabalho, o maior desafio, esclarece ingrid, é gerir o espaço físico num festival. neste rock in rio, são 22 camarins, um lounge e uma tenda, para acolher as centenas de artistas que estarão na barra da tijuca a actuar durante mais cinco dias – hoje e no fim-de-semana que vem (o último concerto é a 2 de outubro).

«todos os dias muda tudo de lugar». isto porque cada cantor traz a sua equipa – katy perry, por exemplo, veio com 70 pessoas – e as suas vontades. no auge da carreira, whitney houston caminhava sobre toalhas brancas para não tocar no chão, as mesmas que ingrid tinha de colocar por cima dos sofás para que a cantora norte-americana se pudesse sentar.

água vulcânica, cerveja de cidra, chá para a garganta e outros produtos importados acaba por ser o mais difícil de arranjar antes de um concerto. isto porque os tempos «mudaram muito» e hoje há menos drogas e menos álcool nos bastidores. «dantes era tudo mais destrutivo. o ambiente era diferente!». agora os cantores são, na sua maioria, vegetarianos e pedem apenas que os ingredientes das saladas sejam orgânicos. «aqui ninguém pede carne, só saladinha. talvez um peito de frango…». há ainda quem peça tudo isto embrulhado em papel celofane, para proteger a comida dos micrórbios – exigências que tornam o trabalho nos camarins mais difícil.

mas compensa: «no final do rock in rio, vou ficar quatro dias ‘fora do ar’, sem telefone, sem internet e sem televisão. sem fazer nada, desligada».

francisca.seabra@sol.pt

*o sol viajou a convite da embratur, instituto brasileiro de turismo