Uma portuguesa na Torre Eiffel

O 26.º desfile da portuguesa Fátima Lopes inaugurou mais uma Semana de Moda de Paris num palco onde nunca havia sido feito um desfile de moda: a Torre Eiffel

o arranque da semana de moda de paris teve, uma vez mais, assinatura portuguesa. fátima lopes voltou a inaugurar o calendário daquela que continua a ser considerada como a mais importante montra da moda mundial.

desta vez, fátima lopes quis «marcar a diferença e fazer algo que ainda ninguém tinha feito» e, ao mesmo tempo, «concretizar um sonho» e, por isso, conseguiu que a sua colecção levitation fosse apresentada na sala gustave eiffel, em plena torre eiffel, com paris a seus pés. segundo a criadora foi a primeira vez que o ex-líbris turístico da capital francesa abriu portas para receber um desfile de moda.

«toda a gente me perguntou como é que consegui», contava a designer no final do desfile, «mas o ‘não’ está sempre garantido e portanto pedimos para fazer aqui o desfile e, de imediato, disseram-nos ‘sim’. não foi uma questão de dinheiro, se assim fosse outras casas maiores já teriam desfilado aqui. e nem sequer foi muito dispendioso», conclui a designer que desfila em paris com o apoio do portugal fashion (projecto da associação nacional de jovens empresários).

o tema levitation surgiu do desejo de fátima lopes criar uma colecção primavera/ verão 2012 «ligeira e feminina», que induzisse a sensação de levitação, em muito influenciada pela possibilidade de desfilar na torre eiffel. o resultado é uma colecção com alguns apontamentos interessantes onde as linhas sexy que costumam definir as criações da designer foram substituídas por uma linguagem sensual, mas mais subtil e cuidada, com uma identidade renovada. «houve um amadurecimento das minhas criações, um crescimento natural que me permitiu conquistar o meu lugar entre os cerca de 90 nomes que desfilam em paris. se assim não fosse também já não estaria aqui. nunca recebi críticas negativas em paris, as poucas críticas negativas vêm de portugal».

a paleta cromática é constituída fundamentalmente por bege e preto, com apontamentos de cores fortes e fluorescentes, como o rosa, laranja, amarelo ou azul. com o recurso a muitas sedas e musselinas, foi o uso do vinil que mais surpreendeu, um material pouco usual em colecções de verão, que no entanto permitiu a criação dos coordenados mais exuberantes: «essas peças eram mais para o espectáculo, mas tive uma reacção tão boa que algumas vão entrar em produção e vão chegar às lojas».

destaque para alguns vestidos de corte em viés, com jogos geométricos interessantes – mas onde, por vezes, ficou a dúvida de alguns problemas de confecção -, e para um jumpsuit em seda bege com mangas reglan. destaque ainda para os colares em plexiglass criados em parceria com o centro tecnológico engeneering and tooling e para os sapatos de salto vertiginoso influenciados pela estrutura da própria torre eiffel.

com uma sala cheia de imprensa, mas poucos compradores, fátima lopes ressalta que esta é uma montra, mais do que propriamente um lugar para compras e vendas. «quem tem milhões e compra publicidade, manda. mas eu não faço publicidade e portanto o desfile é a minha forma de conquistar o mundo, tenho de investir tudo no desfile».

apesar de não esconder que a crise afecta todos, a montra que é paris tem-lhe permitido contactos com países de mercados emergentes como angola – onde abriu uma loja em luanda e fará um desfile em dezembro – e mais recentemente com a turquia – onde em breve terá novidades com a sua marca. e por isso, continua a afirmar, «paris é o local onde é preciso estar».

raquel.carrilho@sol.pt