Natureza vista à lente

Uma boa fotografia de um jardim tem a capacidade de nos aproximar da natureza. Mas uma imagem perfeita é capaz de nos transportar para lá. Basta revelar um insecto pousado num nenúfar, uma árvore despida pelo vento, ou flores que crescem selvagens perto do mar.

são assim as imagens que enchem as paredes do palácio de monserrate, em sintra, que recebe até 27 de novembro algumas das fotografias vencedoras do international garden photographer of the year (igpoty) 2010.

mary denton, da organização, conta ao sol que esta é «a principal competição e exposição mundial de fotografia especializada em jardins, plantas, flores e botânica», aberta a fotógrafos profissionais e amadores. existe também uma categoria para os mais jovens – com menos de 16 anos.

fora do palácio, o ambiente não podia ser o mais adequado; das janelas das salas espreita-se um retalho de verdes pintalgado de cores vibrantes. culpa de francis cook, um milionário inglês do séc. xix que criou uma atmosfera romântica naquele que é um dos mais ricos jardins botânicos nacionais.

lá dentro contrastam as imagens de árvores invernosas e as de flores selvagens em praias – aliás, a fotografia vencedora pertence a esta categoria, estreante na competição.

a lente de colin roberts, fotógrafo profissional inglês, foi cativada pela sobreposição de paisagens: um tapete de lilás num pequeno prado que acaba numa praia, no norte da cornualha ao pôr-do-sol. o título da fotografia ficou ‘sea thrift flowers’.

«o fotógrafo estava de férias com a família quando deparou com este cenário, ideal para a categoria de flores selvagens», conta mary denton.

no entanto, esta não foi uma estreia para roberts, que já tinha ganho, mais do que uma vez, em edições anteriores sempre na categoria árvores.

para o fotógrafo irlandês philip smith, um dos jurados, a imagem encarna o igpoty. «é uma festa inspirada em plantas». outro membro do júri, o especialista inglês em fotografias de jardim, clive nichols, disse mesmo que prendia a atenção imediatamente, «levando os olhos das flores, lindamente iluminadas no primeiro plano, por todo o caminho para o mar, dando uma grande sensação de profundidade».

marianne majerus é uma luxemburguesa habituada aos primeiros lugares desta competição, tendo ganho o principal prémio do concurso, na edição passada. este ano venceu na categoria paisagens de jardim com uma imagem que mais parece uma pintura impressionista, talvez por isso a fotógrafa lhe tenha dado o nome de ‘abstract impressions of a secret garden’.

até agora houve apenas um vencedor português no concurso. henrique souto ganhou em 2008, o primeiro ano da competição, com um portfólio intitulado ‘folhas’ – seis fotografias que couberam na categoria retratos de plantas. as imagens, feitas em estúdio com uma máquina analógica, revelam os pormenores de vários tipos de folhas – como a do carvalho – sobre um fundo preto, o que provocou um contorno de luz na folha. estas fotografias estão também em exposição no palácio.

para henrique, a fotografia é um grande prazer e não a sua profissão. formado em geografia, dá aulas na universidade nova de lisboa e prefere que seja assim. «perdia a magia se eu deixasse de ser um amador», confessa ao sol, e acrescenta que já nasceu a gostar de fotografar e não esquece o momento em que pegou na primeira máquina. tinha cinco anos.

em relação à competição, explica que apenas enviou as fotografias para ter a opinião de quem mais respeita sobre o seu trabalho. «tento estar sempre atento ao que me rodeia».

o international garden photographer of the year teve a sua estreia nos royal botanic gardens, em kew, no reino unido. anualmente, a exposição dos trabalhos vencedores é inaugurada lá antes de percorrer o mundo.

paralelamente à exposição no palácio de monserrate, irão decorrer dois workshops de fotografia com o fotógrafo português, que terão como foco a fotografia de natureza.

até 30 de novembro estão também abertas as candidaturas para a próxima edição do prémio, em www.igpoty.com.

joana.andrade@sol.pt