As medidas do Alfaiate Lisboeta

Chegou com um saco na mão onde se liam as palavras ‘le tailleur’ (o alfaiate), escritas em grafismo clássico. Naquele saco preto de papel, o alfaiate trazia o seu mais precioso instrumento de trabalho. Não uma tesoura, mas a sua máquina fotográfica. Porém, José Cabral gosta mais de escrever do que de disparar o obturador…

apesar de inicialmente lhe faltar esse conhecimento profundo do mundo fotográfico, o projecto tornou-se no mais conhecido blogue de street style português, à luz do que outros já faziam lá fora, como o norte-americano the sartorialist, um fenómeno de popularidade em todo o mundo.

sem qualquer pudor, admite que é uma pessoa arrogante, mas acredita que se calhar é a sua boa energia que faz totais desconhecidos aceitarem o seu convite para serem fotografados e aparecerem no blogue de street style de que é autor.

no primeiro dia deste mês o alfaiate lisboeta publicava: «ao tomás, ao pedro e ao diogo (acho que eram estes os vossos nomes). sim… a vocês mesmo. aos três miúdos (e respectivos skates) que fotografei ontem na base da escadaria da assembleia. era aqui que deveriam aparecer hoje. as minhas mais sinceras desculpas. abraço. assinado: o anormal que vos fotografou sem cartão de memória». felizmente para o autor, o cartão de memória da máquina fotográfica nunca antes tinha ficado esquecido em casa.

nascido em lisboa, tirou o curso de sociologia e foi comissário de bordo, «porque não queria estar o dia todo fechado». mais tarde, achou que devia ‘assentar arraiais’ e tornou-se bancário. ainda assim, não se sentia realizado na sua vida profissional e pensou na criação de um espaço online onde pudesse compensar a sua necessidade criativa: «a ideia é o blogue ser uma coisa que me divirta. é uma actividade que me acompanha sempre. se eu estiver na ericeira, por que não tirar uma fotografia na ericeira? este blogue foi uma descoberta. até de mim próprio. há coisas simples que mudam à nossa vida». e mudaram mesmo. bancário que era, «usava fato e gravata todos os dias». foi o alfaiate que lhe fazia os fatos, «o senhor horácio», que deu o mote para o nome do projecto.

numa fase inicial «toda a gente achou que a ideia era estúpida mas que o nome era giro», explica o autor. pretendia transmitir «boa energia», porque acredita que a blogosfera é profícua no que toca a críticas: «há tanta coisa na blogosfera que se limita a criticar. o exercício da crítica é saudável, mas também não é novidade». irrita-o «o facto de as pessoas terem problemas em elogiar os outros».

josé cabral despediu-se do trabalho no banco e pensa agora dedicar-se cada vez mais a um projecto que tem vindo a crescer a cada dia que passa. com o sucesso da página na internet, chegaram convites para fazer uma coluna no jornal metro e colaborar com a revista de moda vogue. explica por que decidiu deixar para trás a vida de bancário: «havia um custo/oportunidade para estar no banco a fazer uma coisa que não me realizava assim tanto».

o alfaiate orgulha-se de poder promover o cantinho de portugal através do seu blogue. todas as semanas tem uma fotografia sua publicada na new york magazine. «há países que as pessoas querem consumir. se eu fosse italiano, de certeza que o meu blogue era conhecido a nível mundial. apareceu uma fotografia minha, tirada no cacém. nova iorque a consumir conteúdos do cacém… deu-me gozo».

sonia.cecilio@sol.pt