chega de saltos altos ao aeródromo de santarém. acena e deixa escapar um sorriso – uma constante. diana gomes silva, 27 anos, percorre os céus do mundo no seu pitts s2-b. a licença de piloto de linha aérea foi o ponto de partida, a comunicação social a passagem, a acrobacia aérea a meta. é a primeira e única mulher piloto de acrobacia aérea na península ibérica, a mais jovem da europa e a segunda mais nova do mundo.
a paixão pelos céus começou cedo. quando era criança queria ser astrofísica, «o que era um palavrão para uma criança». ser piloto não lhe dizia nada e «achava que era uma coisa de homens». no entanto, os desportos radicais sempre fizeram parte da sua vida. desde muito cedo começou a praticar motocross, bodyboard, snowboard, ténis, escalada e atletismo. ao mesmo tempo que fazia estes desportos tinha de decidir a sua carreira profissional. aos 15 anos deixou a astrofísica de lado e começou a ter um fascínio por aviões. o gosto pela escrita levou-a a tirar o curso de comunicação social e cultura mas a paixão pela aviação impôs-se e, ao mesmo tempo, iniciou a formação como piloto de linha aérea na escola omni. começou por fazer fotografia aérea, deu aulas, e seguiram-se os voos regionais para espanha. hoje é a mais jovem piloto da sata internacional, onde pilota um airbus 320.
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desbravar os céus
o casamento perfeito entre a aviação e o desporto originou uma nova paixão: a acrobacia aérea. «gosto de fazer ambas as coisas. acho que se complementam. apesar de as pessoas acharem que são coisas muito distintas, os princípios são sempre os mesmos». aos 21 anos, a convite de um amigo, diana teve a sua primeira experiência num avião de acrobacia. «aí tive a certeza absoluta que ia fazer isto para o resto da minha vida», confessa a piloto. «a sensação de estar a voar é diferente de tudo o que fiz até hoje. é uma mistura de liberdade e felicidade. sinto-me muito completa. ficava ali o resto da minha vida». muita adrenalina, emoção, êxtase e libertação. o sol apanhou boleia da piloto e foi testemunha deste misto de sentimentos «indescritíveis» que se sente a bordo de um avião de acrobacia. a evidência estava à vista: no ar diana sente-se como peixe na água. sempre cautelosa e preocupada com a segurança, a piloto vai mantendo conversas lá em cima e, por vezes, solta um grito ou um riso de satisfação enquanto faz loopings ou voos invertidos e laterais.
uma vez que a actividade requer muito treino e dedicação, fez cursos de acrobacia nos eua, na tutima academy of aviation safety, a escola de sean tucker, um dos pilotos mais famosos do mundo.
a decisão estava tomada e diana quis representar o nosso país e fazer airshows. «persegui o sonho de ser a primeira mulher em portugal a fazer acrobacia aérea». com o seu namorado, também piloto de linha aérea e de acrobacia, criou uma empresa. atiraram-se de cabeça e fizeram o investimento das suas vidas: a compra de um avião. sendo a acrobacia um desporto muito dispendioso, houve um que teve de se sacrificar. «decidimos apostar mais na minha carreira, até porque tenho mesmo uma paixão por isto. ele tem uma paixão ainda mais bonita: ajuda-me e apoia-me a ter esta paixão. é muito mais difícil ser-se assim do que seguir um sonho. abdicou da carreira enquanto piloto de acrobacia e dos sonhos dele».
o voo de largada, a primeira vez que voou sozinha, «foi inesquecível». «é um avião muito difícil de se voar. na gíria aeronáutica diz-se que quem voa pitts voa tudo. não vemos a pista ao aterrar». acrescenta que o primeiro voo com o avião comercial foi igualmente importante. «a primeira vez que aterramos um 320 é uma sensação engraçada. são 77 toneladas nas nossas mãos».
diana participa em competições mas o seu fascínio são os espectáculos. «numa competição é-nos dado um programa de manobras e todos temos de as fazer da mesma maneira. num espectáculo sou eu que desenho as manobras e complemento-as com fumo, música, discurso, o que me permite chegar muito mais perto do público e partilhar aquilo que gosto de fazer. é outra liberdade». tal como em todos os desportos, imprevistos acontecem e a jovem piloto não ganhou para o susto. este ano teve uma falha de motor e ficou sem óleo, o que a levou a fazer um voo invertido e ir assim para a pista de sintra. «foi uma situação de grande tensão. ainda por cima este avião quase não plana. pesa 500 quilos, sendo que 385 são o motor. é uma pedra. naquele momento pensava não no que tinha acabado de passar mas como é que ia pagar um motor novo!», conta diana. há pouco tempo um piloto perguntou-lhe como tinha sobrevivido. «disse-me que tinha de ir para o grupo de pessoas que tiveram acidentes com pitts e sobreviveram. nem sabia que existia esse grupo, são só sete ou oito. mas não acredito na sorte nem no azar. o sucesso daquele dia deu-se porque toda a vida investi na formação». faz questão de conhecer todos os fios do seu avião. «quando chega ao fim do dia sou eu que estou lá dentro. se houver algum problema tenho de saber de onde vem e tentar minimizá-lo».
diana corre por gosto e não se cansa. entre a aviação, a acrobacia e as aulas de instrução, não resta tempo para si. «não tiro férias há dois anos e meio por causa da acrobacia, mas faz parte. hoje em dia as pessoas não estão dispostas a fazer sacrifícios. as coisas boas que a acrobacia me tem trazido são muito maiores que os sacrifícios que tenho feito».
voar mais alto
diana acredita que há preconceito em relação às mulheres que fazem acrobacia, mas isso não a incomoda. «queremos ser iguais aos homens mas não somos, nem nunca vamos ser. acho que isso é bom e saudável. nunca venho sozinha para o aeródromo porque não tenho força para empurrar o avião para a pista. é uma limitação». gosta que digam que é uma mulher a voar e de ir para o aeródromo e continuar a ser feminina. «não posso voar de saltos altos porque não é prático, mas se pudesse voava». admite que já teve benefícios por ser mulher. «sou chamada para muitos espectáculos por ser mulher e se calhar um colega homem já não é, mesmo que seja tão bom como eu».
em espanha, onde diana diz ser reconhecida pelo seu valor, os seus espectáculos são transmitidos em directo. acredita que no nosso país existe uma cultura aeronáutica, mas lamenta a falta de patrocínios e o facto de as marcas apostarem maioritariamente no futebol. «neste momento vou fechar o meu primeiro patrocínio com uma marca do outro lado da europa. tem que vir alguém de fora para me dar valor». diana tem o desejo de revolucionar a publicidade aérea. «posso fazer letras com o fumo, ao mesmo tempo que dou um espectáculo. não é nada dispendioso para publicidade. o desconhecimento dos valores faz com que as pessoas achem que é caríssimo. é caro para mim que gasto o meu ordenado nisto».
com a abertura da nova época, a piloto lusitana vai ter espectáculos no méxico, brasil, inglaterra, alemanha e bélgica, entre outros. mas diana quer voar mais alto e tem a ambição de se candidatar à reno air race, onde até agora só participaram americanas, e à red bull air race, na qual nenhuma mulher participou até hoje.