a queda dos regimes autoritários da tunísia, em janeiro, e do egipto, em fevereiro, mostraram ao mundo os protestos de dois povos árabes e a sua influência na queda dos ditadores que governavam nos seus países. as revoluções uniram-se na denominação ‘primavera árabe’, que rapidamente se transformou em movimento de revolta. movimento que não tardou a chegar ao médio oriente.
no final de fevereiro, a líbia começava a despertar. nas ruas, a timidez inicial dos protestos demorou poucos meses a evolui para uma revolta à escala nacional. os rebeldes ergueram o conselho nacional de transição (cnt), ao qual kadhafi respondeu nas ruas, com militares e poder de fogo. em março, a comunidade internacional acordou e, sob a batuta da nato, começou a bombardear as forças do regime.
entre avanços e recuos na guerra civil, os rebeldes acabariam por ganhar ascendente. chegam a tripoli, capital do país, em agosto, e celebram a conquista da cidade na fortaleza que outrora servira de base para kadhafi. os rebeldes controlavam quase toda a líbia, mas faltava o ditador. rumores apontavam que estaria no deserto a sul do país, protegido por tuaregues, mas, esta quinta-feira, notícias da captura e morte saíram disparadas para o mundo.
o anúncio tornou-se oficial com a garantia dada por mahmoud jibril, primeiro-ministro interino líbio sob a égide do cnt. as manifestações nas ruas mudaram de tom: gritos festivos de celebração substituíram os protestos que durante mais de sete meses ecoaram nas principais cidades da líbia.
o mundo começa a reagir à morte de muamamr kadhafi. alemanha, frança e até o vaticano já saudaram o fim da era autoritária na líbia, escreveu a bbc, e deram as boas-vindas ao que esperam ser uma nova era de paz no país. porém, as abordagens dos líderes internacionais ‘esqueceram’ um ponto: o efeito que a morte do ditador poderá ter nas revoltas das restantes nações do médio oriente.
protagonismo passa para síria e iémen
a líbia foi a primeira nação do médio oriente a incendiar as ruas com protestos, e a primeira a pôr fim à sua ditadura. sendo muito cedo para avançar com um efeito dominó espoletado pela queda do ditador, não será exagerado dizer que as tensões poderão aumentar tanto na síria como no iémen, nações que acompanharam a líbia na revolta contra os seus ditadores.
na síria, o presidente bashar al-assad não tem poupado na repressão dirigida aos protestos. a onu aponta para que sejam já mais de três mil o número de mortes resultantes dos confrontos entre forças do regime e manifestantes. tanto as nações unidos como os eua têm condenado a repressão e atitude do regime de assad, mas uma intervenção no país tem sido colocada, até agora, fora de hipótese.
assad ainda tentou serenar os protestos com alguns anúncios públicos, onde prometeu a implementação de reformas democráticas no país. as acções não corresponderam às palavras, e tal só contribuiu para aumentar a revolta nas ruas do país, onde milhares de pessoas têm protestado em várias cidades sírias.
o iémen foi a outra nação onde os protestos mais se fizeram notar. governado por ali abdullah saleh, o país que fecha a sul a península arábica. em junho, um ataque à residência presidencial feriu gravemente saleh, e a população iemenita ganhou esperanças quanto à eventual queda do regime. as esperanças foram esfumadas com o regresso de saleh ao país, após ter estado internado na arábia saudita.
a estes dois casos mais notórios de protestos e tensões junta-se o reino do bahrain, embora os protestos reúnam tenham sido em menor escala.
a morte de kadhafi pode desencadear reacções opostas: o eventual receio de assad e saleh podem conduzir a um intensificar das repressões na síria e no iémen ou, por outro lado, ‘motivar’ a onda de protestos.
fundamental será o papel da comunidade internacional em ambas as nações, tal como foi na lígia. um aumento no tom dos protestos motivará, por certo, uma resposta militarizada dos regimes autoritários e, sem uma resposta ‘na mesma moeda’, tanto os rebeldes sírios como os iemenitas terão reduzidas hipóteses de lutar pelo concretizar das respectivas revoluções.