mais grave: deu ao exterior e aos mercados um sinal de descoordenação e desunião entre o poder executivo e a presidência da república, confirmando a tendência histórica (e trágica) de ingovernabilidade do país. é obviamente discutível a justiça de retirar os subsídios apenas aos funcionários públicos e aos pensionistas. à primeira vista, é injusto, sobretudo no caso dos reformados. mas o argumento do governo para os que estão no activo não deixa de ser válido: ao contrário do que acontece no sector privado (e presume-se que, portanto, tal não vai ser posto em causa), os funcionários públicos têm estabilidade laboral. e isso, nos tempos que corre, vale ouro. havia outras opções? provavelmente, sim. cortar nos chamados consumos intermédios (gastos dos serviços) poderia ser uma solução (aliás defendida no passado por passos coelho). o governo não o fez, eventualmente para não estagnar mais a actividade económica (o estado, mesmo pagando tarde e mal, ainda é um dos principais clientes de dezenas de milhares de empresas).
o cerco (ou circo…) , no entanto, está montado, e é quase inevitável uma mudança no oe que penalize também os privados, aliviando o sector público. no fim do dia, ficará a sensação de que foi feita justiça. mas o problema de fundo, esse, vai manter-se: o estado pesa muito. e o passo seguinte terá de ser, forçosamente, mais doloroso: torná-lo magro. afinal, é desta inevitabilidade que os governos fogem há anos demais.
ricardo.d.lopes@sol.pt