ponte de lima tem o seu nome indissociavelmente ligado ao vinho verde, mas se esta funciona quase como uma regra (e trazendo à memória um velho ditado), onde está a excepção?
pois bem, viemos encontrá-la na quinta do ameal, em refóios, mesmo à beira das águas do rio lima. referenciada desde o século xvii, esta quinta contribuía para outra regra: a maior parte dos vinhos desta zona saía para inglaterra.
actualmente com 12 hectares de vinha e oito de mato, a quinta do ameal já pertenceu, em tempos, a adriano ramos pinto, bisavô do actual proprietário pedro araújo. entre estas duas gerações, a do pai de pedro araújo tinha outro projecto, mais voltado para a produção de leite.
até que há 13 anos, pedro araújo decidiu lançar-se numa corajosa empreitada: «quisemos e conseguimos ultrapassar o conceito dos vinhos verdes, apresentando uma outra face, a dos grandes vinhos brancos». para o conseguir, atirou-se de alma e coração ao que chama ‘projecto loureiro’, uma casta que nesta zona de microclima confere aos brancos «uma expressão fantástica», como gosta de referir. o seu objectivo era o de colocar a casta loureiro no panorama vitivinícola. e para já isso está a acontecer. grandes críticos como a famosa inglesa jancis robinson (consultora da casa real) já se deram conta de que algo se vai transformando na região de ponte de lima e falam de «grande revolução e evolução».
com os 12 hectares de vinha (90% loureiro e 10% arinto) todos virados a sul e plantados em solo granítico, pedro araújo apostou, desde há cinco anos, em fazer agricultura biológica para ir buscar mais qualidade. o resultado acaba por ser um vinho mais equilibrado, lado positivo que acaba por contrabalançar as grandes perdas na ordem dos 20% a 30%. «mas vale a pena», defende.
este ano, e ao contrário de outras zonas, esta região não foi muito afectada pelo míldio e por isso mesmo esperam uma produção muito alta, que rondará números a ultrapassar em 20% os do ano passado.
para já, apresentamos aqui dois exemplares da produção da quinta do ameal; o loureiro (2010) e o escolha (2009). o quinta do ameal – loureiro é uma excelente alternativa aos sauvignon blanc e chardonnay, ambos já amplamente divulgados. é um vinho delicado, fresco, com um perfume floral e frutado. com um excelente corpo, evidencia um final de boca persistente. óptimo como aperitivo e para acompanhamento de peixes e mariscos.
outra produção da casa é o quinta do ameal – escolha (2009), que se revelou frutado, bem combinado com fumado, resultante do estágio em barricas de carvalho francês. com um excelente corpo, de cor citrina, tem um final de boca longo próprio de um grande vinho.
com uma exportação de cerca de 70% da sua produção, a próxima aposta de pedro araújo é a entrada no mercado sul-africano. «em angola, até agora tem sido mais difícil porque aí preferem o vinho tinto», diz, mas o paladar angolano começa agora a aceitar os brancos, sobretudo os que têm uma boa capacidade de envelhecimento como é o caso destes. l
jose.moroso@sol.pt