‘Occupy’ evolui para violência em Oakland e desvia atenções de Nova Iorque [vídeo

«Agora o mundo inteiro está a ver Oakland». O protagonismo apregoado pelos cerca de três mil manifestantes que ontem se fizeram ouvir na cidade do estado norte-americano da Califórnia remete para duas conclusões: começa a repressão ao movimento ‘Occupy’ e o desvio das cidades-embrião do protesto, que se tornou global nos EUA.

a frase foi uma das mais ouvidas na noite de quarta-feira, quando cerca de três mil pessoas voltaram ao centro de oakland após as autoridades da cidade terem evacuado, na terça-feira e recorrendo a gás lacrimogéneo, as redondezas da câmara municipal devido a condições precárias de higiene.

infestação de ratos, ajuntamentos de lixo e pessoas a urinar para o chão. estas eram alguma das condições que compunham do acampamento dos manifestantes, que levaram à evacuação da local promovida pela polícia de oakland. evacuação que, ao contrário da natureza original do movimento, não terá sido pacifica.

o escalar das tensões tem substituído o cariz pacífico que dominou o movimento ‘occupy’ durante as suas primeiras semanas. o new york times revela os contornos repressivos da intervenção das autoridades em oakland, onde a polícia terá disparado balas de borracha e cartuchos cheios com feijões contra os manifestantes. relatos semelhantes têm surgido igualmente nas cidades de filadélfia, no estado da pensilvânia, e em atlanta, em georgia.

as queixas dos manifestantes contra a acção «violenta e repressiva» da polícia enchem o blogue do washington post dedicado aos protestos do movimento, onde estão publicadas várias fotografias enviadas pelos manifestantes, a mostrar alegados ferimentos provocados por balas de borracha disparadas pelas autoridades.

holofotes apontam para a costa oeste

os relatos de tensões e violência vindos de oakland têm ganho protagonismo no radar do ‘occupy’ nos eua. as queixas dos manifestantes invadem a imprensa que, apesar de existirem relatos similares vindos de wall street, em nova iorque – local berço do movimento -, têm conferido maior destaque aos episódios da costa oeste.

nem mesmo a notícia da detenção de 10 pessoas, em nova iorque, na sequência de confrontos com a polícia, adiantada pela cnn, retirou as tensões em oakland dos destaques da imprensa norte-americana. nem mesmo as críticas públicas de um marine norte-americano contra a polícia (ver vídeo, em baixo), foram suficientes para evitar que os holofotes se virassem para o evoluir do protesto na califórnia.

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a raiva do marine norte-americano, enquanto criticava as acções da polícia nova-iorquina contra os manifestantes de wall sreet.

‘occupy’ candidata a palavra do ano

à margem das tensões e violência, o sucesso da palavra ‘occupy – ocupar’ começou a alastrar-se para objectivos pouco (ou nada) associados ao protesto. a internet e as redes sociais têm dado a conhecer outros usos que os cidadãos norte-americanos têm conferido à palavra que deu o nome ao protesto.

agora em português. a associated press enumerou a existência de vários movimentos como o ‘ocupar a nba’, ‘ocupar o bar’ ou até ‘ocupar o meu sofá’, dirigido aqueles que não protestam, algo sustentado pela curiosa descrição da sua página no facebook: «todo este não-protesto está a cansar-me».

apesar da originalidade, o movimento destinado ao sofá não recolhe muitos seguidores (conta apenas com 49 fãs esta quinta-feira). a fraca adesão aos paródicos movimentos paralelos contrasta com os milhares que continuam a aderir ao protesto original. o escalar da violência e das tensões com as autoridades adicionaram o nome da polícia ao rol de alvos das revoltas do movimento.

o que antes se iniciou como um protesto contra o capitalismo e a ganância do poder económico norte-americano, parece estar agora a incluir uma revolta contra a acção da polícia.

diogo.pombo@sol.pt