o maus hábitos, espaço de criação cultural situado em frente ao coliseu do porto, foi o principal centro de operações do future places, festival que abordou, durante quatro dias, os meios digitais numa perspectiva local. artistas, convidados e parte do staff cirandavam pelas salas, mas um dos mais discretos era, curiosamente, peter sunde, norueguês-finlandês de 33 anos. numa história da internet, o nome do ex-porta-voz e fundador do pirate bay será presença obrigatória, mas encontramo-lo tranquilamente sentado na esplanada, vestido de forma desportiva.
para percebermos a relevância deste site, citemos as contas de sunde: se o pirate bay é responsável por 60% do tráfego de ficheiros torrent (que permitem descarregar todo o tipo de media) e os torrents representam 80% do tráfego na internet, então o pirate bay é, literalmente, metade da internet.
desgastado, sunde deixou o pirate bay há dois anos, preferindo correr o mundo em defesa do movimento antidireitos de autor e dos seus projectos.
indemnização milionária
o processo movido contra si e outros três responsáveis do site num tribunal sueco – considerado um dos mais importantes de sempre no que toca à liberdade na internet – não foi a razão do abandono, apesar de a última sentença os condenar a pagar mais de cinco milhões de euros de indemnização e a cumprir entre quatro e 10 meses de prisão. segue-se o recurso para o supremo tribunal. «todo o sistema está corrupto. o juiz é presidente da sociedade pró-direitos de autor sueca e três dos quatro jurados trabalham na indústria dos media», acusa.
poupar nas palavras não é para sunde, que considera a apple e o facebook empresas «malévolas»: «tenho um macbook e odeio tê-lo. o facebook e a apple têm a mesma estratégia, dão-nos algo e depois começam a tirar cada vez mais, sob o pretexto de serem trocos».
copiar não é roubar
a suécia é o seu centro de operações e gosta de debater as questões dos direitos de autor – mas recusa-se a entrar em discussões quando comparam a partilha de ficheiros a roubar. «isso é impossibilitar alguém de usar alguma coisa. quando faço uma cópia, estou a convidar alguém a usar a mesma informação», defende.
para o activista, o termo propriedade intelectual é «estúpido», porque não há «nada de intelectual na propriedade». e adianta: «quando os recursos se fazerem cópias eram limitados a situação era diferente. com o digital, não há qualquer custo em copiar. imagine-se se alguém registasse os direitos de autor do alfabeto: tudo o que fosse escrito seria pirataria».
é óbvio que as empresas de conteúdos e entretenimento não concordam com esta visão e apontaram os líderes do pirate bay como inimigos prioritários. «o que mais os irritou foi termos desmontado o bluff deles. quando nos mandaram cartas para desligar os servidores, respondemos mandando-os à merda. outras pessoas seguiram-nos e riram-se deles. baixámos-lhe as calças. isso irritou-os mais do que a quantidade de cópias feitas no pirate bay», diz.
o antigo porta-voz garante que chegou a ser seguido por investigadores privados, que detectou à porta de casa, através de um número de matrícula. mas os processos não diminuíram o tráfego no pirate bay – pelo contrário: o site é uma espécie de buraco negro, que absorve tudo à volta. sunde promete mesmo que a indústria do entretenimento nunca vai ver um cêntimo seu. «compreendo a inteligência limitada e não os culpo por serem estúpidos. não chegámos a um veredicto final e já querem executá-lo, contra a lei sueca. mas é muito fácil para mim não o aceitar, porque não tenho esse dinheiro [risos]».
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