Mulas de Carga

O processo começa com o registo no site do mmMule, onde o requerente do serviço pede o que necessita e diz o que pode dar em troca ao viajante – por exemplo, uma visita guiada pela cidade, dicas, um café ou até um sítio para ficar. Depois é só esperar que alguém viaje até si…

a rede social vai entrar em funcionamento dentro de cinco semanas, mas os criadores do serviço já realizaram dez missões-teste. da irlanda para sydney, da cidade do cabo para a nova zelândia, do quénia para a tanzânia, de sydney para samoa, entre outras. os pedidos foram variados e todos concluídos com sucesso: chá barry da irlanda em troca de bebidas com amigos em sydney; uma garrafa de vinho pinotage de stellenbosch, áfrica do sul, em troca de uma saída à noite em sydney; caramelos tim tams da austrália em troca de um tour personalizado pelas ilhas samoa. a rede social mmmule proporciona uma forma de obter o que se deseja, de qualquer parte do mundo, ao mesmo tempo que se conhecem pessoas e se experienciam outras culturas.

uma mula chamada henry

avis mulhall e andrew simpson são os impulsionadores do mmmule. avis, 31, é irlandesa mas mudou-se para sydney para abraçar este projecto. «sou apaixonada pela inovação social, conectando pessoas e viagens», explica ao sol, entrevistada por email.

deixou a irlanda para ir para áfrica ensinar inglês numa floresta da tanzânia. viajou por quinze países africanos e dirigiu um empreendimento turístico ligado ao surf e ao yoga em moçambique. foi aí que conheceu andrew, um australiano que trabalhou nos últimos dez anos como director criativo em nova iorque, mas já viveu em quatro países e visitou 54.

a empatia entre os dois fez com que decidissem viajar para a etiópia. «as pessoas riam-se e perguntavam como é que tínhamos histórias tão incríveis das nossas viagens. nós achamos que foi a relação com as pessoas locais que nos conduziu para a maior parte das nossas aventuras loucas». foi a partir daí que decidiram criar um site que permitisse às pessoas viajar como eles, «conhecer locais e terem experiências genuínas».

«a meio caminho de uma montanha da etiópia com um padre que dançava, um casal de burros e um bode malfadado chamado henry, decidimos abandonar os nossos trabalhos e seguir a nossa paixão por viagens», conta avis. depois de um fim-de-semana em coachella, na califórnia, e de algumas passagens por nova iorque, dublin e sydney, o mmmule finalmente começou a ganhar forma. «três pessoas, um bode, quatro continentes e cerca de 200 chamadas skype depois, estamos prontos para o lançamento», alerta avis. para imortalizarem o nascimento da ‘mula’ criaram uma mascote com o nome henry, em memória do bode que conheceram na etiópia.

do twitter para o mundo

avis acredita no poder dos media e da internet e que «o mmmule pode revolucionar a maneira como as pessoas viajam, se conhecem e recebem encomendas». em novembro do ano passado foi viver para sydney, onde não conhecia ninguém, para se dedicar ao mmmule. ficou doente e teve de se submeter a uma cirurgia para a doença de crohn. acabou por ter complicações e em vez de cinco dias ficou dois meses no hospital, onde foi submetida a três cirurgias. «isto tudo enquanto construía o começo do site. foi o twitter que me manteve sã. fiz grandes amigos online e conheci-os pessoalmente depois. na verdade, cerca de 90% das pessoas que conheço em sydney encontrei-as no twitter».

afirma que esta experiência lhe ensinou ainda mais sobre o poder da internet e das redes sociais. «espero que através do mmmule permitamos ligações semelhantes para outras pessoas. não só queremos que os locais recebam tudo o que querem dos quatro cantos do mundo, mas que as pessoas façam amigos em qualquer cidade que visitem enquanto têm verdadeiras experiências».

o sistema também pode ser usado de forma altruísta, basta para isso ser um angel mule – aproveitar a viagem para entregar bens urgentes a organizações humanitárias.

em troca, estas ‘mulas’ podem visitar e participar em actividades das organizações. «esta é uma maneira de conectar as pessoas directamente a projectos sem fins lucrativos que precisam de ajuda e permitir que dêem algo em troca às comunidades que visitam», explica a impulsionadora da rede social.

uma questão de confiança

inicialmente os criadores da rede social não vão ganhar nada, apesar de já terem algumas ideias de como fazer dinheiro para sustentar o site. quanto às questões de segurança, vão incluir um sistema de pagamento seguro para itens mais caros.

também têm uma série de opções dentro do site que o tornam seguro para os usuários, incluindo um sistema de mensagens interno para as pessoas comunicarem e se conhecerem melhor antes de se encontrarem, e um centro de aconselhamento com dicas de segurança. «mas a coisa mais importante é que a recompensa não é o dinheiro, mas sim a experiência. se me trouxerem uma garrafa de vinho, por exemplo, devo levar a pessoa a jantar fora».

rita.osorio@sol.pt