Presidente do Intermarché: ‘Os clientes já não acreditam em promoções’

Há 20 anos em Portugal, o Intermarché, do grupo Os Mosqueteiros, vai lançar um plano de expansão no país, avança a presidente. Assumindo que os produtos vão ficar mais caros com a alteração do IVA, e lembrando que as margens estão «no limite do esmagamento», Anne Saintemarie comenta o posicionamento dos concorrentes Sonae e Jerónimo Martins.

com a crise, como está a correr 2011 e como vão encarar 2012?

facturamos 2,5 mil milhões de euros em portugal e o intermarché representa 1,5 mil milhões. já sabemos como vai acabar 2011. vamos ficar mais um ano com o mesmo volume de vendas, feliz ou infelizmente. não conseguimos fazer tantas aberturas como queríamos. foi complicado. abrimos quatro intermarché e a meta era abrir dez. mas temos um plano de acção de cinco anos, de 2012 a 2017, que começa em janeiro e que passa por abrir dez lojas por ano.

ainda há espaço?

sim. nas vilas, para os formatos acima dos 1.200 ou 2.000 m2, o mercado está saturado. o portugal ‘profundo’, as localidades com quatro ou cinco mil habitantes, é que têm pouca oferta e já identificámos uma trintena que pode ter lojas nossas. temos dois formatos: o intermarché contact, de 450 a 900 m2 – e esta é mesmo a dimensão necessária para ocupar o espaço; e temos o intermarché super, de 900 a 2.000 m2, que é a faixa mais ocupada.

quanto será investido por ano?

no mínimo, dois milhões de euros por loja. e cada loja cria entre 25 a 30 empregos directos.

já têm o financiamento?

o financiamento não é fácil e isso trava-nos um bocadinho. mas o ‘bom’ do grupo é que não é português. nesta fase difícil, o apoio para os investimentos pode e deve vir de frança e da área internacional do grupo. são eles que vão ajudar-nos a fazer operações com bancos ou financiar directamente os projectos. metade do investimento será do grupo e outra parte é do aderente que vai investir na loja dele.

se, em 2010 ficaram aquém, e se a crise deverá agravar-se, como vão abrir lojas a partir de 2012?

com um modelo com melhor performance, com maior rentabilidade das marcas próprias e o financiamento internacional.

houve um fecho mediático no bombarral. fecharam mais lojas? há aderentes em risco?

em dificuldades comerciais e em risco há uma dezena de lojas, mas já sabemos o que temos de fazer. neste novo plano de cinco anos, há financiamento para ajudá-las. mas fechos, além de bombarral, não houve.

daqui a cinco anos, como estarão as vendas em portugal?

esperamos ter mais 15%.

que política de preços vão seguir, face às alterações no iva? há margem para incorporar as subidas, como algumas cadeias dizem ter feito no passado?

em 2010 houve subida do iva e da matéria-prima. já anunciámos aos fornecedores industriais internacionais que bloqueámos as tabelas de preço para 2012. ao nível do iva, não somos como o pingo doce a dizer que vamos incorporar. não podemos assumir 10, 15 ou 20%.

inevitavelmente, os preços terão de subir?

vão subir com o iva. vamos tentar negociar mais barato e baixar o preço de custo, mas um grupo que diga que assimila ou mantém o iva face a estes aumentos, que são terríveis, é mentiroso. é impossível. e, com a ‘guerra’ de preços que houve até agora, a margem de manobra já não é tão grande. estamos no limite do esmagamento de margens e o aumento do iva vai sentir-se.

sendo um grupo de origem francesa, como olham para a concorrência e para a ‘guerra’ de preços entre os dois maiores players portugueses, jerónimo martins e sonae?

não estamos num modelo, nem noutro. se há um modelo mais focado nos preços, com uma gama muito reduzida, sem promoções, por outro lado, a sonae tem um modelo com índice de preços bastante alto, mas com marketing forte e muito bom. nós focámo-nos no meio-termo. precisamos de ter gama – e temos quase o dobro da gama do pingo doce –, porque sem isso o cliente vai cansar-se. temos um bom mix de promoções, mas decidimos diminuir as promoções, porque o cliente já não acredita. a gama vai aumentar para dar mais escolha aos clientes. e vamos baixar ainda mais os preços das marcas próprias.

ana.serafim@sol.pt