de gea, smalling, anderson, ‘chicharito’ e nani representam, juntos, quase metade do ‘onze’ ideal do manchester united. nenhum era nascido quando há 25 anos alex ferguson assumiu o comando técnico do clube britânico. a contratação do escocês deu-se a 6 de novembro de 1986 – faz domingo um quarto de século –, 11 dias antes de o internacional português ter visto pela primeira vez o mundo. e marca a segunda maior longevidade de sempre de um treinador num mesmo clube – só ficando aquém do registo praticamente impossível de bater do francês guy roux como técnico do auxerre.
ferguson tinha 44 anos quando ganhou o lugar de ron atkinson e se tornou o 17.º técnico da história dos red devils, que naqueles idos anos 80 andavam a ‘marcar passo’ na premier league – com os adeptos saudosos das glórias alcançadas nos tempos de matt busby (outro escocês que se eternizou no united, entre 1945 e 1969 e 1970 e 1971).
nos primeiros quatro anos ao leme do united, este filho de um operário, que se estreou como sénior no ataque do queens park rangers acumulando o futebol com trabalho num estaleiro naval, andou sem êxito atrás de troféus. e só não foi demitido devido à cultura do clube, avesso a ‘chicotadas’.
mas esteve muito perto. a taça de inglaterra, conquistada em maio de 1990 frente ao crystal palace, salvou-o dos cânticos que já se ouviam nas bancadas a pedir a sua cabeça – os adeptos, agastados pelos maus resultados, estavam a sentir especial dificuldade em digerir a goleada de 5-1 sofrida em setembro do ano anterior perante o outro clube de manchester, o city.
o primeiro troféu do united colocaria o clube na edição seguinte da taça das taças, que viria a conquistar. estavam a ser injectados carburantes num motor que a partir daí passaria a andar afinado.
um feitio nem sempre fácil
ryan giggs, david beckham, paul scholes, gary neville, eric cantona, roy keane, mark hughes, ou mais recentemente cristiano ronaldo, wayne ronney, nani, ‘chicharito’. com a ajuda destes e outros nomes ferguson veio nestes últimos 25 anos a conquistar um impressionante palmarés: além da taça das taças, venceu duas vezes a champions, uma a supertaça europeia, uma a taça intercontinental, 12 a liga inglesa e cinco a taça de inglaterra.
«nunca imaginei ficar cá por tanto tempo, particularmente no futebol moderno», confessou recentemente, adiando para data incerta a sua saída do united. «ao longo dos anos muito se falou em quem me poderia substituir, e desses nomes muitos já não estão no activo. para o meu lugar deveria entrar alguém com muita experiência, mas antes de tudo ainda não estou a pensar na reforma».
é o próprio quem tem dado azo a especulações sobre o seu sucessor. no início de 2001/2002 anunciou que sairia no termo dessa época; mais tarde disse que deixaria o clube no dia em que batesse o liverpool em número de títulos – o que foi conseguido em maio deste ano.
alex ferguson não se nega a declarações que dão bons títulos de jornal – «ver um campeonato do mundo é pior do que ir ao dentista» ou «o segredo da minha longevidade? beber o vinho certo» – e não hesita em ser desagradável com a imprensa ou com os próprios jogadores.
«os jogadores de hoje não se assemelham aos de há 25 anos. mentalmente, não são tão fortes porque foram criados em ambientes mais favoráveis. gostam de dizer que vêm da classe operária, mas não da classe operária que conheci».
são famosos os seus acessos de cólera, como o ocorrido em 2003, no balneário após a derrota por 2-0 com o arsenal para a taça de inglaterra. pontapeou em fúria uma chuteira que inadvertidamente cortou a cara do então capitão dos red devils. a relação entre os dois já vinha tensa e terá sido a ‘gota de água’ para a saída de david beckham para o real madrid.
outros como gordon strachan, paul mcgrath, paul ince, andriy kancelskis, jaap stam, dwight yorke, peter schmeichel, diego forlan, roy keane ou ruud van nistelrooy deixaram também o clube por desentendimentos com ferguson, de quem se diz exigir de um jogador na proporção do que leva para casa em salário.
como qualquer homem de personalidade férrea, suscita diferentes reacções. há quem o queira à distância e quem goste tanto dele que faça questão de o anunciar ao mundo. «foi para mim como um segundo pai. e lá por jogar no real madrid não vou deixar de falar com os velhos amigos. nunca me esqueço de quem me ajudou», declarou cristiano ronaldo há cerca de dois meses.
afectos à parte, não há quem se atreva a criticar alex ferguson quanto à sua competência. cairia no ridículo face ao colossal currículo daquele que é hoje o treinador mais bem sucedido da história do futebol inglês.