o que distingue a voz de portugal de outros programas do género?
é o formato de revelação de talentos mais justo que já conheci. começa quando os outros acabam, no sentido em que todos os que entram na primeira fase, na prova cega, já passaram por um casting muito exigente – mas não filmado – onde se fez a verdadeira triagem. as provas cegas são mesmo feitas às cegas, o que permite que a aparência não conte nesta fase inicial que é determinante para se entrar no jogo. os jurados são aqui mentores, os candidatos podem seguir os seus estilos e são bem-vindas pessoas que já andam no mundo da música mas que ainda não tiveram a sua oportunidade.
quando lhe foi lançado este desafio não receou estar envolvida em mais um programa de música?
tenho a perfeita consciência de que formatos de revelação de talentos continuam a agarrar espectadores. sabia que a voz está a fazer um enorme sucesso nos eua e na holanda e, por isso, achei que seria interessante estar à frente deste formato com características distintas e onde os candidatos são tratados com respeito. a rtp achou que deveria ser a apresentadora e eu fico contente com essa decisão.
o que mais a surpreendeu nos concorrentes?
por um lado a qualidade fantástica em idades muito diferentes; por outro, a enorme persistência e paixão. e com alguns já me tinha cruzado na chuva de estrelas ou na operação triunfo!
rui reininho, anjos, mia rose e paulo gonzo. o que acredita que se pode esperar de cada um destes mentores, com registos tão diferentes, quer em termos musicais quer enquanto pessoas?
é evidente o que cada mentor pode oferecer e o que cada candidato procura. o rui reininho é o exemplo de como o trabalho de equipa através de uma banda pode ser duradouro. representa cultura e capacidade de se reinventar e tem um sentido de humor peculiar embrulhado num estilo inconfundível. os anjos representam a dedicação e o trabalho que é necessário para erguer uma carreira e deixar rasto. nasceram num programa de televisão de talentos e sobreviveram, o que faz com que os candidatos acreditem ainda mais que é possível concretizar os sonhos. o paulo gonzo tem a voz que todos admiram e uma grande capacidade para ensinar. tem uma carreira que passou por muitas etapas e os seus temas são transversais. a mia rose, sendo a mais nova e com menos experiência, tem para oferecer a partilha de conhecimentos por ter trabalhado fora do país e pelo facto de ter nascido, não através de uma editora, mas do youtube.
como lida com a irreverência e imprevisibilidade de rui reininho e paulo gonzo?
para mim é adorável. é difícil descrever o ambiente que se conseguiu entre pessoas tão diferentes. tem sido fantástico. existe em todos um sentido de justiça apurado e, ao mesmo tempo, uma grande dose de humor e respeito. claro que o rui e o paulo têm um historial invejável e há que tentar não ficar a ver navios.
sempre que a rtp lança um programa de entretenimento deste género há uma discussão sobre se é um produto de serviço público. este caso não é excepção.
a definição de serviço público ainda não foi feita e não existe apenas uma visão, isso seria redutor. em momentos de crise e dificuldade há a tentação perigosa de opinar em nome de uma qualquer verdade absoluta – e não há verdades absolutas. neste momento o que acho importante é lembrar os formatos que não poderiam nunca estar na rtp e perceber que, de facto, existem balizas que determinam o que nunca poderia ser serviço público: a exploração da intimidade de forma leviana e desrespeitadora, a promoção da ignorância… a voz de portugal faz todo o sentido no canal 1, que por enquanto é um canal generalista, porque destaca o lado positivo e empreendedor das pessoas, promovendo o talento e dando novas oportunidades. é um formato que faz sentido na rtp.
disse que ‘por enquanto o canal 1 era um canal generalista’. como vê a possibilidade de privatização da rtp?
sou colaboradora da rtp e, nesse sentido, por uma questão ética, não me parece justo fazer qualquer tipo de comentários.
enquanto embaixadora da boa vontade quais têm sido os seus últimos desafios?
dia 26 apresentei na assembleia da república o relatório sobre a população mundial, do fundo das nações unidas para a população (unfpa), do qual sou embaixadora, e cujo tema este ano é: ‘pessoas e possibilidades num mundo de sete mil milhões’. depois sigo para o sudão do sul onde irei acompanhar o trabalho de ongs e voluntários individuais, e vou também mostrar o trabalho que o unfpa começou a erguer na área da saúde materna, discriminação e violência com base no género, planeamento familiar… os meus desafios estão sempre relacionados com as questões da maternidade segura, gravidez adolescente, igualdade de géneros e vih-sida. a defesa dos direitos humanos de quem os vê mais violados: as mulheres e as crianças. é sempre um desafio passar a mensagem do que vou vendo no terreno nestes 11 anos de trabalho e tentar explicar a importância da ajuda. em tempo de crise dos países desenvolvidos a bola de neve reflecte-se de forma assustadora nos países em desenvolvimento.
depois de príncipes do nada e dar vida sem morrer, quais os próximos projectos?
tenho a convicção de que irei continuar a contar histórias inspiradoras que possam ter influência nas decisões de quem pode alterar o rumo da história com vista a erradicar a pobreza extrema até 2015. o príncipes do nada está já na terceira edição e voltarei a fazer histórias de ongs e voluntários com importância no combate à pobreza. depois, no próximo ano, voltarei à guiné-bissau para fazer o quarto e último documentário dar vida sem morrer, que mostrará como o contributo dos portugueses salvou centenas de mães e bebés devido à implementação do projecto de redução da mortalidade materna e infantil em três regiões do país. assistir a mortes absolutamente evitáveis provoca em mim um sentido de compromisso de vida e uma responsabilidade diária e incontornável.