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cruzes suásticas, lâminas ensanguentadas, as palavras hate e reich. todos estes símbolos cobriam a cara e o corpo de bryon widner. mas submeteu-se a 16 meses de cirurgias para apagar o passado que tinha tatuado.
durante 16 anos, widner foi um dos mais conhecidos e temidos defensores da supremacia branca nos eua. fundador do gangue skinhead vinlander, no ohio, ainda antes dos 30 anos já tinha passado quatro preso por crimes de ódio.
em 2006, a sua vida mudou. casou com julie, com quem partilhava ideais, e começaram a questionar as suas crenças. ainda mais quando chegou o primeiro filho, tyrson, cujo nome é inspirado no deus nórdico tyr, símbolo do odinismo.
apesar de ter deixado o passado racista para trás, widner não conseguia refazer a sua vida. as tatuagens que lhe cobriam o corpo não lhe permitiam encontrar emprego. era olhado com receio. «uma vez estava com o tyrson e ele começou a chorar e uma mulher olhou para mim e disse: ‘deve estar assustado com a sua cara’».
odiava tudo o que a sua cara representava. mas não tinha dinheiro para resolver o problema. começou a pesquisar na internet e «estava preparado para mergulhar a cara em ácido».
a solução acabou por vir daqueles que antes eram inimigos a abater. julie, desesperada com o sofrimento do marido, abordou daryle jenkins, um negro, líder do grupo anti-ódio one people’s project, que os levou até ao southern poverty law center (splc), onde conheceram joseph roy. aqui, bryon widner partilhou informação útil acerca de vários grupos extremistas – o que expôs a família a ameaças e os obrigou a mudar de casa várias vezes. em contrapartida, roy prometeu-lhe ajuda. e cumpriu. encontrou uma apoiante do splc disposta a pagar os 24 mil euros das cirurgias, desde que mantivessem a sua identidade anónima e que bryon estudasse e fizesse terapia.
após um ano à procura de um cirurgião, encontrou bruce shack, em nashville, e foi operado pela primeira vez em junho de 2009. diz nunca ter sentido tanta dor. nem quando, na prisão, os guardas o trancavam numa cela só com negros e estes o espancavam. foram 25 cirurgias a laser para ‘limpar’ o rosto. actualmente sofre de problemas de pigmentação e tem dores de cabeça permanentes, mas é «o preço a pagar para ser humano».
todo o processo foi filmado e deu origem ao documentário erasing hate, que espera que sirva de lição aos mais jovens. o primeiro ensinamento, porém, foi para widner: após um visionamento do filme, foi abraçado por uma mulher negra que, em lágrimas, lhe disse: «eu perdoo-te».
raquel.carrilho@sol.pt