Grécia continua à procura de acordo

As conversações para a formação de um governo de «salvação e unidade nacional» prosseguem hoje de manhã em Atenas pelo quarto dia consecutivo, e quando o nome de Lukas Papademos surge de novo como a hipótese mais consistente para o cargo de primeiro-ministro.

o presidente da república, carolos papoulias, recebe pelas 10h locais (8h em lisboa) os dirigentes políticos empenhados nesta solução política transitória e destinada a aliviar a pressão dos credores internacionais, e quando já foram agendadas eleições legislativas antecipadas para 19 de fevereiro.

a generalidade dos analistas admite que o ‘fumo branco’ seja finalmente anunciado no final desta manhã, com a confirmação do nome do primeiro-ministro, que nos últimos quatro dias já conheceu pelo menos sete candidatos.

na noite de quarta-feira o diálogo entre as forças políticas que deverão apoiar o próximo executivo – pasok do ex-primeiro-ministro george papandreou, nova democracia (nd, direita) de antonis samaras e o laos (direita radical) de giorgios karantzaferis – voltou a ser bloqueado por desentendimentos de última de última hora.

o menos decisivo residiu num «amuo» de karantzaferis, que abandonou apressadamente o palácio presidencial, dando a entender que abandonava as conversações. mas um telefonema de um assessor do chefe de estado resolveu o problema, e o líder do laos prometeu regressar hoje ao diálogo.

caso esta aliança se concretize, o novo governo não terá mandato popular mas poderá contar com o apoio de 254 dos 300 deputados do parlamento.

pouco antes, papandreou tinha discursado na televisão para confirmar a sua anunciada demissão.

«após tantas dificuldades, estou orgulhoso por termos evitado a queda e assegurado a estabilidade do país. desejo o melhor sucesso ao novo primeiro-ministro», referiu.

a grécia está a tentar evitar a todo o custo a saída da zona euro, pelo menos a curto prazo. o país permanece dependente da concessão de mais um tranche de 8 mil milhões de euros do primeiro plano ajuda financeira firmado com a troika internacional para pagar salários, pensões e dívidas até ao final de novembro.

as divergências entre os dois principais partidos gregos – que voltaram a despontar na quarta-feira – estão relacionadas com esta questão central.

lukas papademos, 64 anos, ex-governador do banco central da grécia e antigo vice-presidente do banco central europeu, apresentou como condições para aceitar o cargo que o pasok e a nd subscrevam formalmente os planos de resgate, uma exigência também emitida pela união europeia, e pretende ainda impor um prazo flexível para o novo executivo, que implicaria o adiamento das eleições legislativas antecipadas.

fontes coincidentes referiram que os dois partidos terão finalmente aceite as condições de papademos, e após antonis saramas ter declarado por diversas ocasiões que se “opunha” à assinatura do documento.

a população de atenas parece dividir-se entre a prudência e o desinteresse, com se estivesse a assistir a uma repetição de acontecimentos já com pouco significado.

«tínhamos um primeiro-ministro que é americano, não é grego. uma situação impensável para a grécia. alimentamos os papandreou há muito tempo, era tempo de se ir embora», desabafou um jovem taxista de atenas, com um gorro «verde tropa» enfiado na cabeça e quando tentava concentrar-se no emaranhado de trânsito que entope a capital helénica.

«os países do sul da europa deviam unir-se para fazer frente aos nossos parceiros mais ricos, que querem sempre impor-nos os seus interesses. agora é a itália, devia juntar-se a nós», acrescentou.

«pago 6.000 euros de renda por mês e o senhorio recusa baixar a renda. a situação está difícil mas temos de lutar, seguir em frente», referiu por sua vez katerina, proprietária de um pequeno café-restaurante na movimentada avenida panepistimiou.

«a situação mudou muito no último ano e meio. os gregos sempre foram um povo alegre, mas agora estão a sorrir muito menos. mas era inevitável a saída do papandreou, os países do sul da europa estão a ser muito atacados?».

um discurso recorrente, e onde o nome de portugal, por vezes da irlanda, é citado com frequência. neste calvário, os gregos não gostam de se sentir sozinhos.

lusa/sol