com uma área de 1.230 m2 e mais de 48 espécies de répteis, anfíbios e peixes, o reptilário do jardim zoológico de lisboa atrai miúdos e graúdos que vêm à procura dos maiores, como os crocodilos, mas que acabam encantados pelas pequenas tartarugas do egipto, as mais pequenas do mundo, ou pelas serpentes arborícolas, escondidas entre as ramagens das árvores.
para garantir que todos vivem felizes nesta casa, susana silva trabalha há 13 anos com estes animais e dá-lhes tudo o que precisam os visitantes aprenderem um pouco mais sobre as espécies. e este ‘tudo o que precisam’ implica limpar aquários, fazer-lhes a higiene e, claro, preparar-lhes cuidadosamente as refeições, o que não é uma tarefa fácil quando falamos de dragões de komodo, serpentes ou tartarugas carnívoras… «em relação aos répteis, toda a nossa cultura nos diz, desde que somos pequeninos, para fugirmos porque ‘faz em mal’. ora só ‘fazem mal’ porque nós não os conhecemos», explica a tratadora. e é para isso que susana – e a sua equipa – trabalha.
muito antes dos primeiro visitantes chegarem, já a tratadora está a limpar todos os aquários. depois segue-se a preparação das refeições para os mais de 60 animais que vivem aqui. «tem que ser tudo feito na hora para os alimentos serem dados aos animais nas melhores condições», explica susana. e cada animal tem que ter o alimento de acordo com o tamanho da sua boca… por exemplo, para as tartarugas do egipto, que são as mais pequenas do mundo, a comida deve ser cortada muito pequenina. «isto é o que nos leva mais tempo porque, por um lado, cada animal tem a sua alimentação e, por outro, temos que adaptar essa alimentação ao tamanho da sua boca», esclarece. «e depois temos aqui as pitons, que só comem praticamente uma vez por semana», avança susana, relembrando que a ementa destes grandes répteis inclui pintos, ratos, coelhos e galinhas.
«outra das coisas que tentamos fazer aqui é reproduzir ao máximo o seu habitat natural e por isso pedimos ao jardineiro do jardim zoológico que nos arranje folhas, troncos, ramagens e até algumas flores para pormos nos diferentes aquários», adianta, enquanto nos apresenta «a coqueluche da casa». trata-se de uma serpente arborícola que veio de outro jardim zoológico e que durante o transporte ficou doente: «já ninguém dava nada por ela, mas nós insistimos e já cá está há oito anos e bem de saúde. mas precisa de bastantes cuidados, como temperatura e humidade constante. e à noite colocamos uma luz vermelha para não lhe ferir a vista». e para os curiosos a tratadora explica que «as serpentes dormem mas fazem-no com os olhos abertos!».
ainda na zona mais protegida do reptilário, a tratadora apresenta os ‘seus bebés’, «umas tartarugas que nasceram aqui no zoo, há um mês, tal como estes lagartinhos. como os visitantes batem muito nos vidros e eles ainda são muito pequenos, preferimos tê-los aqui mais resguardados, mas todas as pessoas os podem ver!». ao lado das pequenas tartarugas, está ainda uma grande família de rãs: «nós fizemos uma campanha de defesa destes animais e, logo no primeiro ano, os pais resolveram acasalar e darem-nos uma postura de 150 animais…». muitos destes descendentes já têm viagem marcada para outros jardins zoológicos onde ficarão hospedados.
depois de introduzidos aos répteis através da serpente arborícola, das tartarugas e das rãs, seguimos susana no tratamento diário das cobras. «com elas já temos que ter outros cuidados. cada vez que limpamos os aquários usamos aqueles ganchos que as pessoas já devem conhecer da televisão, apanhamo-las, pomo-las numas caixas próprias e só depois é que fazemos a limpeza e a remodelação do espaço. apesar de não termos aqui animais venenosos, tratamos todos como se o fossem por uma questão de segurança». e só esta tarefa pode demorar entre 15 a 20 minutos para cada espaço. «mas nós não fazemos só isto. além de tratarmos dos animais e de limparmos os aquários, ainda fazemos a manutenção dos espaços por onde os visitantes passam», atalha a tratadora. «outra parte do trabalho passa também por contar todos os dias os animais» e, quando não percebem bem quantos são, «porque as cobras às vezes estão todas enroladas», têm que encontrar as cabeças ou as caudas e proceder sempre à contagem.
depois das cobras, a tratadora dedica-se às iguanas e aos dragões de komodo. susana lembra que há uns anos esteve muito na moda as pessoas terem iguanas e, apesar de se dizer que não era um animal agressivo, a tratadora garante que algumas são, de facto, «muito agressivas». «costumo dizer que os animais são como as pessoas: há pessoas boas e más, há umas mais calmas e outras mais violentas… por exemplo, nas nossas pitons, temos uma a que chamamos de rottweiler e outra que quase que se pode dormir com ela que não faz mal nenhum! e com as iguanas acontece exactamente a mesma coisa», acrescenta.
mas os animais preferidos de susana são mesmo os dois irmãos dragões de komodo. estes animais têm na sua saliva um anticoagulante que faz com que depois de morderem as suas vítimas, o sangue não estanque. em estado selvagem, esta situação associada a uma multiplicidade de bactérias que estes répteis têm na boca, faz vítimas silenciosas. susana garante que depois de atacarem a vítima, os dragões de komodo conseguem identificá-la a oito ou nove quilómetros: «são chamados os ‘primatas dos répteis’ porque são extremamente inteligentes e eu gosto imenso deles. um dragão que tivemos aqui antes e que foi cedido a um zoo da indonésia, sempre que eu chegava ao pé dele acompanhada, espirrava! e se fosse sozinha, percebia quando o odor não era o mesmo!». l