Fuga aos impostos é principal causa da dívida grega

A causa da dívida grega reside na evasão fiscal que nos últimos 20 anos provocou um prejuízo anual ao orçamento de Estado avaliado entre 12 e 15 mil milhões de euros, disse à Lusa um especialista em Economias de Política Social.

«todas as medidas de austeridade aplicadas na grécia desde 2010 são contra os assalariados e reformados e não atingem quem tem o dinheiro», argumenta o professor e investigador savas robolis, 65 anos, director científico do instituto do trabalho (ine), associado às duas confederações sindicais gregas do sector público e privado (gsee/adedy).

«no nosso estudo concluímos que existe uma evasão fiscal entre 30 a 35 por cento. nos últimos 20 anos a evasão fiscal fez perder ao orçamento de estado entre 12 a 15 mil milhões de euros por ano e no fundo essa é a causa da dívida», precisa professor de economia das políticas sociais na universidade panteion de atenas, numa referência ao mais recente estudo do ine «economia do trabalho e do emprego/ relatório anual 2011».

«assim não é de estranhar que exista um elevado défice. em vez de tomar medidas para diminuir ou enfrentar a evasão fiscal, os decisores foram ao mercado financeiro e pediram empréstimos com elevadas taxas de juro. com esta política financeira ao longo de 30 anos, é óbvio que a dívida vai acumular-se. e é por isso que estamos na actual situação».

comentador regular nas televisões gregas e articulista em diversos periódicos, savos robolis é um investigador respeitado. e bem documentado.

«se analisarmos o orçamento de estado, cerca de 68 por cento das receitas provêm dos impostos dos trabalhadores e reformados. não é possível num país como a grécia, ou portugal, que o orçamento de estado viva somente com dinheiro de reformados e assalariados. no fundo, é esse o problema», sintetiza.

um opção que, segundo o investigador, é ainda anticonstitucional. «no artigo 24, parágrafo d) da constituição refere-se que neste país cada um deve pagar os impostos de acordo com o seu rendimento. mas é como se não existisse, é nulo».

em alternativa, tem apresentado «no diálogo público que decorre no país» um programa de quatro pontos «que repito sempre que vou à televisão». e pormenoriza: «intervenção decisiva dos bancos centrais europeus para aceitarem a dívida» dos países mais fragilizados «incluindo a itália», investimentos no «desenvolvimento público para a criação de postos de trabalho e o relançamento económico», a «redistribuição dos rendimentos» e o «estímulo ao estado-providência» para garantir a coesão social.

«quando o pasok estava na oposição aceitou estas propostas, mas já no poder e após as reuniões com a troika, esqueceu-as. e o mercado de trabalho tornou-se uma selva. como vai ser possível viver nos próximos anos num país como portugal, grécia ou itália? não é possíve», assegura robolis.

a avaliação da política da troika internacional da grécia entre 2009 e 2011 é um aspeto decisivo do relatório do ine, onde se conclui que, nos dois últimos anos, a procura interna recuou 16,4 por cento para se situar ao nível de 2003. sublinha diversos dados alarmantes, mas destaca um que considera particularmente preocupante: «os investimentos públicos e privados diminuíram na grécia 38,2 por cento, um recuo ao ano de 1998. isto é muito sério».

o director do ine é rigoroso nos números. recorda que entre 2000 e 2008 a economia grega entre 2000 e 2008 criou 320 mil postos de trabalho, que foram «totalmente eliminados» em 2010-2011. «tudo o que fizemos ao nível de postos de trabalho durante oito anos foi perdido em dois anos», assevera.

o consultor económico das centrais sindicais anuncia que as suas direcções já decidiram convocar uma nova greve geral quando o actual governo de coligação aprovar o de orçamento de estado para 2012.

o executivo de lucas papademos prepara-se para aplicar novas e duras medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais.

mas robolis perspectiva um curto «estado de graça» ao novo governo, apesar de o acordo de coligação prever eleições antecipadas.

«o anterior governo manteve-se 18 meses, o que se seguirá após as eleições de fevereiro de 2012 talvez resista por um ano. mas acabará por cair, não é possível manter-se com estas medidas de austeridade», garante.

e também prevê «enormes manifestações» em 2012. «julgo que serão reacções mais fortes que em 2011. as famílias gregas estão numa situação limite. e estão a dizer: sempre mais impostos, mais impostos, mais impostos. assim não podemos viver’».

lusa/sol