A folga necessária

O líder da oposição, António José Seguro, ‘descobriu’ que existe, afinal, uma folga a rondar os mil milhões de euros no OE2012.

a descoberta – que já fora revelada há semanas por alguma imprensa portuguesa, tal como o sol – tem levado o socialista a defender, toda a semana, que se poupe pelo menos um dos subsídios – de férias ou natal – dos funcionários públicos. o argumento – que cai sempre bem e está em linha com o que já disse cavaco silva – é que os privados não vão ser chamados, como os funcionários do estado e pensionistas, a contribuir de forma tão dolorosa para a consolidação orçamental de que o país precisa para ir recebendo as tranches do empréstimo internacional. seguro não deixa de ter razão quando alerta para o esforço acrescido que é pedido a quem depende do estado. mas, infelizmente, é precisamente no estado que tem de ser feita uma cura de emagrecimento. e tal implica cortar despesa. a eito e sem hesitações.

a folga, contudo, não é a primeira que existe em orçamentos do estado. e, neste momento em particular, é prudente que exista alguma, tendo em conta o histórico recente (e menos recente) do país. este ano, como se sabe, o governo descobriu um ‘desvio’ de cerca de 1,4 mil milhões de euros, que alargou o ‘buraco’ para 3,4 mil milhões. quem garante ao líder socialista que não haverá novos desvios no próximo ano? e, havendo, como se cobrem? é prudente que haja uma folga. se não for necessária, tanto melhor. nesse cenário optimista, folgará quem mais precisa. e, por muito que custe a seguro e a cavaco admitir, não são os funcionários públicos os mais carenciados.

ricardo.d.lopes@sol.pt