infabilidade
antónio costa é sempre poupado à crítica
têm ideia de antónio costa ter feito algo de errado em lisboa? digo pelo que lêem na comunicação social.
inversamente, outros há que, segundo a mesma comunicação social, tomam sempre decisões polémicas ou erradas… agora, sem jornalistas nas reuniões de câmara, tudo é calmo e sereno, nada tem muita importância – ou, se tem, existe sempre uma explicação.
passaram esta semana dois anos desde que antónio costa e manuel salgado tomaram posse para mais dois anos de mandato.
digo ‘mais dois’, porque já tinham outros dois. já lá vão, portanto, quatro anos. e em quatro anos não haveria tempo para já se ter concluído a ligação do túnel do marquês à av. antónio augusto de aguiar?
o túnel principal, com embargo e tudo, demorou três anos a ser inaugurado. três anos, com projecto e obra. mas este troço ainda está por acabar.
havia desacordo de verbas com o empreiteiro? era óbvio que, depois do embargo, estavam dados os argumentos para isso acontecer. mas não é desculpa. a obra poderia ter continuado – havendo depois uma decisão da arbitragem.
lembro-me de um viaduto na ligação da av. estados unidos da américa a chelas feito por permuta com uma rede de supermercados.
anos depois, ainda estava em litígio uma verba, julgo que de seis milhões de euros. mas a obra estava lá e o valor final ficou de ser apurado nas instâncias próprias.
havia a questão do reforço do túnel do metro? sim, havia. mas sabem quantas obras de subsolo e de infra-estruturas tiveram de ser feitas antes do troço do túnel já em funcionamento? muitas e bem complicadas. até para não ter de se abrir a estrada outra vez… e o que foi necessário fazer para o túnel da joão xxi?
as ‘obras de esquerda’ são sempre simples. nunca merecem atenções, artigos, auditorias. agora não interessa nada. é indiferente. eles estão lá e os ‘intrusos’ já foram postos fora.
desigualdade
a câmara de lisboa… e as outras
as contas. dois anos depois, o que terá mudado? estará a casa ‘arrumada’?
pode ser que sim ou pode ser que não. em quanto estará a dívida? 800 milhões? 600 milhões? na campanha de 2009 era um pouco mais de mil milhões, lembram-se? como terá evoluído?
será verdade que o município conseguiu desde 2007 cerca de 400 milhões de euros de financiamentos, entre eles o programa de reabilitação (piparu)? e que, graças a um desses financiamentos, o prede, foi possível pagar aos credores e transferir a dívida para os bancos, consolidando-a?
mal? bem? pelo menos, diferente de 2002-2004, com manuela ferreira leite como ministra das finanças, em que a regra era a do endividamento zero. na altura não era possível fazer empréstimos – e, por isso, não podiam transferir-se dívidas para a banca.
o que impressiona em portugal é dar-se por adquirido que uma coisa é assim ‘e pronto’ – não há nada a fazer. é assim a desigualdade, é assim a parcialidade, mas continua.
os contratos das scut serão boa gestão? má? nem uma coisa nem outra? o parque mayer é que foi má gestão. sabe-se que foi um ‘cidadão de lisboa’ e um partido político a queixarem-se… mas, agora, quem se queixa? e não venham outra vez com sócrates, porque não foi ele o progenitor…
aliás, balanços deveriam ser feitos em mais lados. porto, claro coimbra, também. são balanços de interesse nacional. o que mudou? que obras se fizeram? em coimbra saiu carlos encarnação. alguém ouve falar do novo presidente, barbosa de melo? é mau, é bom?
sintra, também. o seu presidente que está lá há dez anos, lembra que em população se encontra cada vez mais em destaque. ora que obras da câmara se realizaram naquele concelho com partes de território tão bonitas e outras tão complexas? e mafra, concelho que, segundo o último censo, foi o que atraiu mais população nos anos mais recentes?
são só alguns exemplos do que o país deveria saber e não sabe. é uma pena que seja assim. mas, atenção: nos outros foi sempre assim. em lisboa, nem sempre. a desigualdade é aí. isto acontece por acaso? claro!
legitimidade
o eixo berlim-moscovo e a ‘nova europa’
continua o filme voando sobre um ninho de cucos por essa união europeia fora. nunca se assistiu a tão grande sucessão de irresponsabilidades por parte de tantas pessoas supostamente inteligentes e sensatas.
em minha opinião, um dos problemas principais reside na debilidade do poder de angela merkel e de nicolas sarkozy. é evidente que não são os únicos culpados – e, considerando a semana que passou, nem são eles os autores de disparates mais chocantes. mas, como têm querido aparecer como ‘donos da europa’ – ou, pelo menos, como seus líderes – é naturalmente sobre eles que caem as consequências dos fracassos.
ambos têm sondagens muito desfavoráveis. principalmente sarkozy está numa posição politicamente muito débil (como já referimos neste espaço), com eleições previstas para o primeiro semestre de 2012 e com todas as previsões a apontarem para a vitória do candidato socialista, françois hollande.
as atitudes dos responsáveis gregos, nos dias que se seguiram ao conselho europeu, constituíram uma autêntica desautorização das decisões lá tomadas.
e quem preparou esse conselho? quem fez, antes, várias cimeiras bilaterais, fazendo questão de que não estivesse mais ninguém? exactamente angela merkel e nicolas sarkozy.
apareceram com ar solene e majestático no final de cada encontro, anunciando o que tinham ‘decidido’ sobre o que a união ou a zona euro deveriam fazer… por isso, devem ter sentido de modo especial o vexame com origem em atenas.
é verdade que, após uma primeira fase de desorientação, foram recuperando algum controle da situação. mas, neste momento, ‘já lá vai’ o governo grego e berlusconi anunciou a demissão.
nada, ou quase nada, se acalma. e é necessária legitimidade fresca para a autoridade ser maior. é o que aconteceu em portugal e vai suceder em espanha, dentro de dias.
entretanto, esta semana, a chanceler alemã e o presidente russo, dmitri medvedev, inauguraram o enorme gasoduto que liga os dois países. para além da importância económica para ambos, é um facto carregado de simbolismo. a alemanha deve estar cansada do euro – e, na rússia, já várias vezes se falou de uma moeda com outros países europeus.
começa a despontar uma nova geografia política e económica num espaço que tem de deixar de ser o ‘velho continente’ para passar a ser a ‘nova europa’.