e daquela varanda sobre o índico que nos esperava logo ao fundo do hall. agora está lá uma fonte discutível e discutida. mas é sempre um lugar familiar e acolhedor, sob a batuta distante mas omnipresente e amiga do nazim.
os voos vêm e vão cheios. a crise espicaça os portugueses a procurar soluções a sul, nesta metade austral de áfrica onde fomos pioneiros. a ilusão e o eldorado europeus – como outras promessas miríficas de que a nossa geração foi testemunha resistente e crítica – estão a transformar-se numa incógnita e podem virar pesadelo. as pessoas compreendem que aqui a festa acabou e que têm que fazer pela vida, indo daqui (de portugal), para fora: internacionalizando, quer dizer exportando, investindo, emigrando.
moçambique esteve na moda em 1994 depois do fim da guerra civil e das primeiras eleições. foi uma paz que chegou e ficou entre a frelimo e a renamo. apesar das dificuldades, da hegemonia do partido do governo, de dois casos sérios de revoltas de abastecimentos em maputo, o país tem encontrado soluções de estabilidade.
o facto de terem tido que lutar pela independência e a brutal guerra civil que se seguiu, acabou por acelerar a construção do estado. a guerra desestruturou e levou os homens do sul a servir no norte, os do norte para o centro, atirou muitos camponeses para as cidades. custou muito mas destribalizou e unificou.
a paz de 1992 e as eleições de 1994, criaram um quadro favorável ao investimento estrangeiro. os portugueses foram em força. marcaram e continuam a marcar no sector financeiro com os grande bancos locais como o millennium-bim ou o bci (banco de comércio e indústria) à cgd e ao bpi. ou o moza banco, com dois grupos portugueses entre accionistas. mas se na banca as coisas correram bem o mesmo não se pode dizer de outros projectos, nomeadamente industriais.
com o fim da guerra de angola em 2002, houve um refluxo para a costa ocidental. agora somos assim de ventos e corremos para onde os ventos parecem soprar favoráveis. dantes quando fomos grandes, planeávamos, e até aprendemos a navegar contra o vento, dominando-o, disciplinando-o.
mas moçambique, neste momento, está com os ventos a favor: o gás natural, o carvão, talvez o petróleo, as pedras semi-preciosas e outros minérios. há muitos achados comprovados, há mega-projectos da vale do rio doce e da riversdale, que no médio prazo vão transformar a vida económica do país. é o que, com algum humor, me comenta um alto dirigente local. «até agora vivemos sem recursos, agora vamos ter que viver com eles. pode não ser fácil».
quando há entre os portugueses este olhar de atenção e interesse por moçambique e seguindo aquele conselho do orwell que aqui citava na semana passada, que para conhecer um país é preciso conhecer a sua economia e a sua história, permito-me recomendar um excelente guia sobre a fundação do estado moçambicano moçambique 1974 – o fim do império e o nascimento da nação. o autor é o fernando amado couto, um amigo com quem muito tenho aprendido sobre moçambique e áfrica.
não quero com isto dizer que me identifico com toda a visão e versão do autor. mas quero dizer que é um livro de história próxima, investigado, sério, sentido, vivido. e bem escrito, com um sentido de ironia elegante, sem ser sarcástico. um bom companheiro para perceber o moçambique de hoje, que não é o moçambique do império, mas também não é o dos anos revolucionários do pós-independência.