o diploma que regulamenta o acesso dos bancos ao fundo de 12 mil milhões de euros da troika – para a recapitalização das instituições – impõe regras duras. a pior de todas, que levou os bancos a queixarem-se a bruxelas, numa atitude inédita, é a que permite ao estado, em caso de incumprimento, tomar conta das instituições e vender as acções em sua posse a quem entender.
sendo certo que o diploma ainda pode ser alterado, o espírito destas regras tem subjacente uma desconfiança do estado em relação aos bancos. se o estado tivesse a certeza que, no fim do período de assistência à banca (três anos), esta teria saldado todas as contas, não ponderaria a nacionalização. do mesmo modo, se os banqueiros tivessem como garantido que seriam capazes de cumprir na íntegra os compromissos com o estado, não teriam medo de ser ‘tomados’. mas, nos tempos que vivemos e nos que se avizinham, a palavra ‘certeza’ não faz parte do léxico. é quase tão improvável como o crédito bancário, que está em queda livre.
os banqueiros, como é público e notório, não estão habituados a que lhes ditem demasiadas regras. entende-se. ninguém gosta de ser comandado por gente de fora. mas, se o pior acontecer – ou seja, se o estado tiver de tomar conta das instituições –, o problema não será dos banqueiros. será do estado, que ficará dono de bancos em dificuldades. no fim do dia, adivinhe quem vai pagar a conta…
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