por exemplo, aprendemos – eu aprendi e penso que gerações sucessivas de estudantes liceais aprenderam – que a unificação alemã tinha começado pelo zolverein, isto é pela união aduaneira. a criação de um espaço económico e fiscal comum determinante para a fundação do ii reich.
tenho as maiores dúvidas. a unificação do reich fê-la o chanceler bismarck, com o aço dos canhões krupp, com o exército de moltke, com uma infra-estrutura de transportes e comunicações virada para a guerra, que permitiu aos prussianos mover e concentrar as forças mais depressa que os seus adversários.
é o velho tema maquiavélico (e anterior, do ouro e do ferro). quem comanda, o que comanda? na verdade a unificação alemã fez-se através de uma vontade política determinada – bismarck aconselhando e orientando o kaiser. os detalhes económicos, fiscais, financeiros, seguiram a vontade política e o poder militar fez o resto.
a união europeia tem sido uma união económica e monetária para alguns – os associados na eurolândia. quando se pôs a questão do avanço para a união política, a constituição europeia – os povos disseram não. e depois de dizerem não, ninguém mais os consultou.
não há, pois, uma pátria europeia, muito menos uma nação europa. que era, aliás, o lema dos movimentos nacionais-socialistas europeus dos anos quarenta, que pretendia enfrentar-se ao ‘bolchevismo soviético’ e à ‘plutocracia americana’.
por não haver nação europeia – e pela indecisão e perplexidade dos líderes dos estados-membros e das instituições europeias – a crise vai continuando e vai-se agravando.
primeiro foi a grécia, depois a irlanda e portugal. agora as dúvidas – e as dívidas – atingem a terceira economia da zona euro, com as obrigações italianas a subirem os juros e berlusconi a demitir-se, substituído por ‘um governo de competências’ presidido por mario monti. tinha já sido a solução da grécia, com papandreu, substituído por papademos.
a minha dúvida quanto a estes governos de competências ou tecnocráticos é que eles podem funcionar em situações de ditadura (se os tecnocratas forem competentes) mas em situações democráticas ‘normais’ têm que enfrentar os mesmos problemas que os governos partidários – respondem perante o parlamento e não aguentam a pressão da rua, se ela for muita.
então qual é a solução, perguntam as pessoas, educadas na fábula optimista de que ‘em democracia há sempre solução’ e inquietas perante a inacção dos chamados ‘responsáveis europeus’. boa ou má, só há uma solução para restaurar – se ainda for a tempo – a confiança. é pôr o banco central europeu (bce) a garantir o euro e claramente disposto a recorrer a todos os meios (leia-se a imprimir notas) para evitar o seu colapso. as outras ‘soluções’ são já curtas nesta ocasião e é absurdo pensar que os não-europeus, os bric – brasil ou china – vão investir no euro e nos valores da zona euro, se os alemães e outros europeus (ainda) solventes não o fazem.
para isto haverá, além das dificuldades legais e regulamentares, que vencer a resistência dos alemães, quer da chanceler merkel, quer do ministro das finanças schäuble. isso significa o regresso da inflação que os traumatizados teutões associam ao retorno de adolf hitler. até agora (18 de novembro), o bce comprou 190 mil milhões de euros de obrigações dos países com problemas. o que, ao ritmo e no tempo, parece pouco e tarde.
necessário seria um compromisso solene e claro de que os senhores da eurolândia iriam suportar o euro e que o fariam através do bce, recorrendo aos meios extremos a que a situação obriga.
tudo o resto não será suficiente e só servirá para entreter até ao desastre. como a orquestra do titanic.