Encargos com juros são dois terços dos prejuízos no sector dos transportes

Os encargos com juros da dívida representam dois terços dos prejuízos apresentados pelas empresas públicas de transportes (Carris, Metropolitanos de Lisboa e Porto, STCP, Transtejo, CP e Refer). De acordo com os relatórios e contas das empresas de 2010, os prejuízos apresentados por estas sete companhias fixaram-se em 939,9 milhões de euros, dos quais 622,1…

este facto é um dos principais quebra-cabeças do novo executivo. em entrevista ao sol, publicada há duas semanas, o secretário de estado dos transportes, sérgio silva monteiro, admitiu que a reestruturação das empresas não irá conter a subida do endividamento, que aumentará três mil milhões de euros até 2015, chegando a 20 mil milhões. medidas como o corte no número de trabalhadores e a redução da oferta terão apenas impacto em um terço dos problemas das empresas, ou seja, no seu défice operacional.

os encargos com os juros da dívida estão a degradar, de forma galopante, o equilíbrio orçamental das transportadoras. «o custo com o serviço da dívida é exorbitante perante a realidade da empresa», disse o presidente da cp, josé benoliel, à revista do grupo. a cp já paga mais em juros da dívida (160 milhões) do que em salários (122 milhões), incluindo encargos com a segurança social. no limite, mesmo que fossem despedidos todos os trabalhadores, a cp continuaria a registar prejuízos.

apesar destas empresas terem cortado em um terço o número de trabalhadores, desde 2001 até ao fim deste ano (de 22.888 para 15.188 trabalhadores), excluindo o sector aéreo, a situação financeira das empresas continua a piorar.

o_aumento dos encargos financeiros é, assim, o principal quebra-cabeças do novo governo, para o qual não foi ainda avançada qualquer solução.

os especialistas contactados pelo_sol acreditam que o_estado terá de assumir a dívida antes de concessionar as empresas ao sector privado e que, com a actual dívida, as empresas nunca serão rentáveis.

«não há milagres», diz joaquim polido, presidente da adfe_rsit. «obviamente que não», garante jorge paulino pereira, do instituto superior técnico.

frederico.pinheiro@sol.pt