E se os outros 25 países da UE reunissem sem a França e a Alemanha?

Será que os outros 25 países da União Europeia, ou os outros 17 da Zona Euro, não deveriam fazer uma cimeira sem Angela Merkel e Nicolas Sarkozy?

em minha opinião, era a resposta política adequada. sem ofensa para ninguém, com todo o respeito por alemães e franceses. como o povo costuma dizer, todos somos filhos de deus. com durão barroso? com van rompuy? talvez não, pelo melindre em que ficariam nas posições institucionais que detêm.

a diferença tem de estar entre quem quer vencer a crise sem desrespeitar as instituições e os que, ‘cheios de vento’, querem salvar-se a si próprios, e aos seus eleitorados, olhando pouco para o que está em redor.

já viram a força que teria 25 chefes de estado e de governo encontrarem-se para definir uma estratégia para a crise?

já viram o que representaria juntarem-se para dizerem o que pensam, por exemplo, sobre os eurobonds?

o que pensam sobre as agências de rating, definindo um quadro regulador da respectiva actividade?

o que representaria esse encontro dizendo o que entendem sobre o papel do banco central europeu e sobre a estratégia para o crescimento económico?

o ministro das finanças francês dizia, esta semana, que é natural que a frança e a alemanha se se encontrem, e façam propostas em conjunto, porque representam mais de 50% do pib da zona euro. pois muito bem: então que se encontrem, também, os outros 50%.

aunião europeia está, de facto, em vias de desagregação. ou, melhor dizendo, está em desagregação a zona euro. há muito tempo que escrevo e digo ser inevitável um euro a duas velocidades, quando isso era considerado uma ficção. neste momento, com tudo o que se tem passado, duvido que até esse caminho seja possível.

não vale a pena continuar nesta trajectória à espera da próxima colocação de dívida e a olhar para os juros das obrigações dos países supostamente ainda fora da crise, porque a rota está traçada.

a continuar-se assim, será um país atrás do outro. itália em breve; depois frança ou espanha; e o eixo bélgica-holanda–alemanha virá a seguir.

alguém tem dúvidas? a actuação de angela merkel e nicolas sarkozy, neste momento, do ponto de vista do que a situação exige, situa-se num plano de infantilidade ou irresponsabilidade.

principalmente, por julgarem que podem resolver isto a dois.

as zonas monetárias supõem economias equivalentes

falei em 25 estados-membros e em 17 da zona euro. não sei se iriam todos, nomeadamente a holanda ou mesmo a dinamarca. não sei se iria um dos 25 que não pertence aos 17. admito que sim. refiro-me ao reino unido, o nosso mais antigo aliado.

quem não meditará, hoje em dia, sobre a sua ancestral sabedoria, que tem atravessado governos conservadores e governos trabalhistas?

quando decidiram ficar fora da zona euro foram apelidados, muitas vezes, de egoístas, arrogantes, pouco solidários, isolacionistas. quiseram manter a libra e não devem estar nada arrependidos.

pelo menos, não perderam os instrumentos de intervenção na política monetária e, por conseguinte, a capacidade de alterar os termos de comportamento, por exemplo, da balança comercial, das exportações e importações.

começa a existir este sentimento incontornável de que mais vale sermos um pouco mais pobres a estarmos sujeitos aos abusos de poder de gente que não elegemos.

sou defensor da construção de zonas monetárias que estejam para além da área de jurisdição de um país– mas só quando envolvam economias de nível de desenvolvimento mais ou menos equivalente.

‘um país, uma moeda’ também não me parece ser o caminho do futuro para os estados que hoje integram a união europeia. do mesmo modo, deve ser afastada a hipótese de uma moeda comum só para portugal e espanha, porque isso seria um caminho politicamente perigoso. de qualquer maneira, é preciso pensar e decidir com visão, com ousadia, com coragem, para lá da reacção aos acontecimentos do dia-a-dia. há um depois de amanhã que se começa a perfilar já no horizonte.

são de louvar as atitudes de passos e seguro

isto não invalida que considere adequada a estratégia oficial do governo português de não se demarcar das posições da sra. merkel.

à primeira vista pode parecer contraditório, mas não é. portugal, com a sua dimensão, com o que passou quanto à necessidade de auxílio externo, não deve, sozinho, seguir a via de enfrentar quem mais poder tem na realidade política que ainda existe, ou seja, a união europeia e a zona euro, como ainda estão configuradas.

portugal precisa, acima de tudo, de ganhar credibilidade externa. por isso mesmo, considero muito importantes os acordos alcançados entre o governo e o principal partido da oposição, tal como o presidente da república – apesar de outras divergências com o governo – vinha preconizando.

a atenuação no impacto do corte dos subsídios de férias e de natal nos salários e nas pensões tem um profundo significado.

este primeiro-ministro e este líder da oposição têm comportamentos pouco usuais no sistema político português. mas que, para mim, são de louvar. por exemplo: antónio josé seguro defendeu o voto a favor de algumas dessas alterações dos subsídios (o que lhe valeu uma ‘revolta’ entre os deputados do seu partido). por sua vez, pedro passos coelho terá justificado a concordância com as propostas de alteração com o facto de ter dado atenção a propostas que defendiam uma distribuição mais justa dos sacrifícios.

as palavras do primeiro-ministro e do líder do ps são pouco comuns na nossa democracia, mas decorrem de um estilo e de uma substância que sempre tenho defendido para as relações entre governo e oposição.

não faz sentido, mesmo em alturas normais, governo e oposição estarem sempre a divergir, quanto mais numa crise como esta. um líder da oposição deve escolher dois ou três temas essenciais para marcar as diferenças em relação a quem governa. estar sempre a divergir retira força às divergências mais importantes. só os fanáticos da política caduca é que não entendem isto.

o iva, para muitos espectáculos, acabou por ficar na taxa média – e, das questões mais faladas, apenas no iva da restauração não conseguiu evitar-se a taxa máxima, o que gera alguma preocupação. mas o essencial é que o primeiro-ministro, o líder do cds-pp (responsável pelo encerramento do debate por parte do governo) e o líder da oposição demonstraram estar à altura dos acontecimentos.

e o presidente da república, nesta matéria, foi um inequívoco promotor de consensos. em termos institucionais, e também substanciais, acabou por ser melhor do que se esperava.