depois da saga póstuma millennium, que pôs o mundo a ler os três livros de 600 ou 700 páginas de stieg larsson com uma voracidade rara e obrigou muita gente a reduzir as horas de sono e a passar os dias à espera de uma qualquer pausa para dar conta de mais um pequeno avanço na história, veio uma enxurrada de mistérios glaciais. talvez sem o mesmo grau de vertigem e narrativa de uma precisão milimétrica arrepiante, mas em número suficiente para nos interrogarmos sobre a propensão daqueles povos para urdir histórias de crime.
era, portanto, uma questão de tempo até esta mestria se revelar noutras áreas. e se foi natural a adaptação a dois tempos da obra de larsson ao cinema (versão sueca seguida de versão de hollywood). o axn black exibe desde há duas semanas aquele que parece ser o seu correspondente televisivo – a bbc tem também kenneth brannagh a adaptar livros de henning mankell. the killing – história de um assassinato pode não ter o virtuosismo ficcional de larsson, mas mantém a ideia de um ardiloso e consistente argumento que roda em torno da investigação de um assassínio, explorando as relações da polícia com o poder. a secura e o drama partido por episódios tornam a série mais próxima dos romances policiais nórdicos do que da profusão espalhafatosa de crimes excêntricos que se tornou a marca do franchising csi.
the killing chega a portugal depois de um estrondoso sucesso em inglaterra (raro para um produto legendado) e de ter estreado nos eua a sua inevitável adaptação local. felizmente, por cá foi comprada a série original, que nos permite continuar a questionar por que serão os nórdicos tão incrivelmente bons a encenar a sordidez humana.