Suspender os mercados

O espectro da implosão da Zona Euro ganhou força esta semana. Primeiro, a revista The Economist sugeriu que o fim do euro pode acontecer «em semanas».

depois, nouriel roubini, o nobel que previu a crise do crédito subprime, veio garantir que «já começou o fim do jogo na zona euro». não é preciso ser um génio, nem um economista brilhante, para perceber que é mais do que provável estarmos a assistir aos últimos ‘suspiros’ daquele que foi um dos projectos mais ousados – e virtuosos – dos tempos modernos. mas as palavras da reputada revista e do eminente académico só reforçaram o que outros (e eles próprios, no passado recente) têm dito: é tão óbvio que o euro está em causa que só não vê quem não quer.

a história da criação do euro é a história de uma união de esforços feita por políticos que, infelizmente, já não estão entre nós. ou que, estando, já não pertencem à ‘clique’ que decide os destinos da união europeia (ue). é uma história do tempo em que a política se sobrepunha à economia, ou melhor, aos mercados, essa entidade difusa que arrasa países sem que se lhes consiga fazer frente. hoje, a europa é liderada por políticos sem visão, sem perspectiva, sem futuro. e a europa, que, ironicamente, também cresceu à custa dos mercados está, agora, a ser a sua vítima. mas os mercados não vão ficar satisfeitos com o fim da ue. há um mundo a desbravar e biliões para ganhar. há anos, a ex-ministra das finanças, ferreira leite, num artigo polémico, sugeriu a suspensão da democracia, para serem feitas as reformas necessárias. talvez não fosse má ideia, agora, suspender os mercados. se ninguém põe ordem nisto, não vai restar ‘pedra sobre pedra’.

ricardo.d.lopes@sol.pt