Fim de incentivos fiscais aos carros eléctricos afastou Nissan de Aveiro

O antigo presidente da AICEP Basílio Horta considera que a Nissan «está a fazer o seu papel» ao invocar razões de negócios para suspender a fábrica em Aveiro e afirma que «foi determinante o abandono da política de mobilidade eléctrica».

em entrevista à lusa, o antigo presidente da agência para o investimento e comércio externo de portugal sublinhou que a nissan já sabia qual seria a sua produção e «como ia escoar as baterias» que iria produzir quando esteve a discutir com o governo a instalação da fábrica de baterias em portugal e, ainda que esse argumento possa ver válido, «seguramente foi muito ajudado pelo abandono da política de [incentivos fiscais à] mobilidade eléctrica».

«isso já eles sabiam! quando decidiram fazer o investimento em portugal já sabiam isso. acho que a nissan está a fazer o seu papel. mas é evidente que a nissan, quando decidiu fazer o investimento em portugal, depois de largos meses de negociações intensas, sabia perfeitamente quais eram as fábricas que tinha», afirmou basílio horta.

e o que a nissan sabia, continuou basílio horta, era o seguinte: «na europa ia fazer duas [fábricas], uma em inglaterra e outra em portugal. depois tinha nos estados unidos e no japão. se entendeu nessa altura, também já sabia qual era a produção e já sabia bem como ia escoar as baterias que ia produzir. creio que esse argumento pode ser válido, mas seguramente foi muito ajudado pelo abandono da política de mobilidade eléctrica», acrescentou.

o que levou na altura a nissan a decidir levar por diante um investimento de 156 milhões de euros, com a criação prevista de 200 postos de trabalho, conforme consta num memorando de entendimento – afirma basílio horta «assinado há mais de um ano» e que «está no ministério da economia» – foi um conjunto de argumentos e apoios fiscais e outros, enquadrados na política de mobilidade eléctrica, sustentou o antigo responsável da aicep.

«havia uma intenção da nissan fazer uma fábrica de baterias na europa. fazia uma em inglaterra. estava hesitante em fazer outra noutro país», começou por enquadrar basílio horta. depois, continuou o agora deputado independente pelo ps, «nós dissemos ‘temos aqui a política de mobilidade elétrica como primeira prioridade’. foi por causa disto que eles vieram para cá. e, obviamente, dissemos ‘se vocês tiverem as baterias aqui têm incentivos fiscais e têm apoio do estado’, apoio eventualmente para a abertura de portas de licenciamento, os projectos pin [projectos de interesse nacional], etc», afirmou.

«era uma política global, nacional, [em que] este era um dos investimentos. havia outros. a salvador caetano colocava o autocarro eléctrico, havia o tramagal com a possibilidade de se fazer a primeira canter [modelo de veículo pesado da mitsubishi] eléctrica em portugal e havia este investimento das baterias», afirmou basílio horta.

o investimento da nissan «fazia sentido», segundo o ex-presidente da aicep, «uma vez que portugal estava na primeira linha da mobilidade eléctrica, ao lado da dinamarca».

basílio lembra que portugal foi «o primeiro país a criar uma rede para carregamento de baterias, fomos o primeiro país que mostrou interesse em incentivar a produção de carros eléctricos, criando um regime fiscal, ou propondo um regime fiscal especial em termos de iva e de imposto sobre veículos automóveis para os carros eléctricos».

entre outros argumentos, recordados pelo deputado do ps e reconhecidos agora pela própria nissan, estiveram a posição geográfica de portugal, o facto da renault ter cá os terrenos disponíveis para fazer o investimento, mas também «tínhamos um director-geral da renault-nissan português, empenhado no seu país».

«tudo isto se conjugou para que o investimento fosse feito. agora, a política mudou e é evidente que perdemos este investimento», concluiu basílio horta.

lusa/sol