em palco juntam bailarinos clássicos, contemporâneos, de hip hop, de danças africanas, com cantores-músicos e artistas circenses, num jogo de colagem de linguagens artísticas que reflecte a diversidade do mundo de hoje.
«sempre quis uma companhia centrada na individualidade de cada elemento, nas suas histórias, nas personalidades diferentes. ainda hoje guardamos esse espírito heterogéneo, a harmonia nasce da diferença», explica josé montalvo, coreógrafo e mentor da companhia criada em 1988.
na peça orphée, criada em 2010 e em cena na culturgest entre 16 e 18 de dezembro, estes diferentes suportes são utilizados para recriar, numa versão contemporânea, o mito de orfeu, a mais humana das personagens míticas, que com a sua lira encanta animais selvagens, ao mesmo tempo que busca a sua amada eurídice. «gosto de preservar a infância e desde sempre que amo o universo das fábulas e das lendas… os temas oníricos que convidam à imaginação», diz montalvo.
o espectáculo divaga pelas várias interpretações do mito de orfeu, como o poder da arte, o amor, a magia, a perda, o inferno, a morte e a vida. «é uma peça de metáforas dos tempos de hoje». cruzam-se memórias e referências, partindo de três peças musicais essenciais: orfeo de monteverdi (1607), orfeu e eurídice de gluck (1774) e the orphée suite for piano de philip glass (1993). há euforia, excesso, magia. o orfeu de montalvo-hervieu é uma festa onde a arte é o veículo para a superação, como deixa claro o bailarino de muletas, sem uma perna.
como sempre no trabalho desta companhia, a tecnologia volta a ser um intérprete próprio. as imagens vídeo são mais do que cenário. «o uso da tecnologia permite cenários que, de outra forma, não seriam possíveis. as imagens tecnológicas mudam a nossa percepção e tornam o espectáculo mais apaixonante. quando começámos diziam que o que fazíamos não era dança porque usávamos novas tecnologias, mas hoje todos usam», remata josé montalvo.