Lojas de chineses também fazem promoções de Natal

Num ano em que o ‘sapatinho’ dos portugueses está recheado de austeridade, também os lojistas chineses decidiram baixar preços para atrair clientela.

«promoções até 50%» lê-se na montra de uma destas lojas, na rua da prata, baixa de lisboa. mas não é a única. «este ano está muito mau. foi a primeira vez que fizemos promoções. antes, só fazíamos quando começavam os saldos. mas agora todas as lojas fazem e nós também», diz a dona de outro destes estabelecimentos, na mesma rua. aqui, as reduções, lançadas no início de dezembro, chegam a 40%.

«este ano há mais promoções do que em anteriores», admite o presidente da confederação do comércio e serviços de portugal. «o ano tem sido fraco e as pessoas estão com receio de não conseguir recuperar no natal. por isso, começaram a fazer promoções mais cedo», explica joão vieira lopes. «normalmente, não havia promoções antes do natal. e, quando havia, eram na ordem dos 10%. agora, andam nos 30%, 40% e 50%», diz.

no ‘coração’ do comércio em lisboa, multiplicam-se os letreiros ‘acenando’ com descontos. alguns lançados no início deste mês, outros apenas na semana que antecede o dia 25. apelidadas de promoções de natal, são não só nas marcas de roupa e sapatos, mas também de lingerie, decoração, jóias e perfumes.

na antónio joalheiros, também na rua da prata, optou-se este ano, pela primeira vez, por baixar preços. um cartaz na montra indica que desde 9 de dezembro que vigoram descontos de 30% nas peças de ouro novo. «nem saldos fazíamos», diz isabel quaresma. a crise obrigou a aderir às promoções, «mas não tem resultado muito»: as vendas continuam a cair.

promoções inéditas

esmeralda pereira foi, este ano, também ‘obrigada’ a avançar com reduções. na loja da aerosoles da rua do carmo, chiado, há promoções desde 28 de novembro.

mas, na quarta-feira passada, todos os artigos passaram a ter 30% de desconto. «as vendas não estão a correr bem. em 40 anos de comércio, é a primeira vez que faço reduções antes do natal», conta a gerente ao sol, enquanto vai colocando nos sapatos etiquetas com os novos preços. «e, mesmo assim, tenho a loja vazia», lamenta a responsável, que está na empresa há 36 anos e nesta aerosoles há quatro. «há dois anos, à hora de almoço, não conseguia entrar-se porque estava cheia de gente», recorda, acrescentando que as quebras nas vendas dos últimos meses têm sido entre 30% e 40%. «a tendência será para agravar-se», prevê, frisando que estas medidas são «como antecipar os saldos», que até agora só surgiam após a quadra natalícia.

«já estamos com promoções até 70%», avisa um cartaz na women’secret. no chiado, sacoor, massimo dutti, pepe jeans, loja do gato preto, adolfo dominguez seguem a mesma estratégia: todas prometem descontos. há ainda insígnias, com a seaside, a levi’s ou a sephora, que garantem reduções tanto mais generosas quanto o volume de compras feito.

o efeito ‘bolsojacking’

na sapataria lord, rua augusta, a vendedora paula lourenço encolhe os ombros quando se pergunta como estão a correr as vendas. depois, atira: «não estão a correr bem e este ano não houve iluminações na baixa», que costumavam ser um chamariz. nesta loja, já havia hábito de fazer promoções antes do natal. mas «houve um aumento do desconto, porque a época correu mal», afirma. o corte não ultrapassava os 20%. porém, este ano chegou aos 50% em certos artigos. e teve efeito? «se calhar não se deixou de vender tanto como se esperava», admite, embora contabilize recuos de 40% a 50% no negócio, que, não reanimou nem quando os portugueses receberam o subsídio de natal.

«o cliente nacional procura o mais barato possível», relata o responsável da loja de vestuário maison louvre, rossio. «há o carjacking, mas, para nós, foi o ‘bolsojacking’ que complicou muito a prenda de natal», ironiza gil sá, referindo-se aos cortes de rendimentos dos portugueses. nesta loja já eram praticadas reduções natalícias de cerca de 20%, mas este ano foram superiores, até 60%. «são quase as percentagens que se praticam em fins de saldo mas antecipadas», adverte o comerciante, que tem espalhados pela loja avisos anunciando que tudo é low cost. é um contraponto face às ‘vizinhas’ da avenida da liberdade, onde estão as marcas mais luxuosas e caras. aqui, raras são as montras a anunciar promoções.

ana.serafim@sol.pt