ouro, incenso e mirra. mal sabiam os reis magos, quando depositaram os primeiros presentes de natal aos pés do recém-nascido jesus cristo, que o seu exemplo continuaria a ser seguido mais de 2000 anos depois.
mas quis o rumo da história que assim fosse e que, de então para cá, o consumismo crescesse desenfreadamente, usando as tradições cristãs a seu favor. hoje é impossível enumerar toda a variedade de ofertas possíveis. fruto da necessidade, da vaidade e até da imaginação, os pedidos ao pai natal não têm limites. os deuses devem estar loucos? talvez.
mas um presente é um presente e as crianças ainda têm direito a sonhar, nessa inocência tão genuína colada à figura do pai natal. e claro que aos adultos também é permitido regressar à infância, nem que seja só no natal.
a tabu perguntou a várias personalidades da vida nacional e angolana qual o melhor presente de natal que receberam até hoje. em tempos de crise generalizada, nada como aquilo que o dinheiro não pode comprar: amor e carinho.
vasco palmeirim, radialista
«o presente que mais me marcou foi um tragabolas, aquele jogo em que os hipopótamos comem umas bolas. durante anos quis aquilo, mas nunca me ofereceram. curiosamente acabei por receber já homem feito e foi o pedro ribeiro (director da rádio comercial) que me ofereceu porque já não me podia aturar mais a falar nisto!»
ricardo pereira, actor
«um dos presentes mais especiais que recebi e do qual gostei muito foi uma mota. lembro-me tão bem! era uma yamaha bws, uma acelera que me deu asas e mundo. naquele tempo, aos 16 anos, tornou-se a minha companheira tanto que em um ano fiz 15.000 quilómetros, só em lisboa. foi-me dada pelos meus pais e foi uma total surpresa, pois tinham-me dito que não a iria ganhar. vivi muitas histórias com ela, e tive pena de a vender, mas teve de ser, pois ajudou a comprar o meu primeiro carro. em segunda mão, claro!»
bárbara guimarães, apresentadora de televisão
«o presente que mais recordo foi a bicicleta vermelha que recebi aos cinco anos. lembro-me perfeitamente de a receber e pensar que era tão grande e que, com ela, ia poder andar depressa e ter muita liberdade. aprendi a andar logo no dia a seguir a recebê-la. o meu pai foi comigo para o jardim, mas pôs-se a ler o jornal e eu aprendi a andar sozinha. mas claro que esfolei os joelhos todos! foi um presente muito desejado, era um sonho muito grande que tinha. para uma criança não há nada maior do que uma bicicleta!»
rui sinel de cordes, humorista
«devo dizer que tive uma infância feliz no que toca a presentes, dado que fui a primeira criança da família. fui o primeiro filho, sobrinho ou neto de muita gente, o que fez com que recebesse muitos presentes. depois apareceram os palhaços dos meus primos e começaram a dar-me cabo do natal. no entanto, o presente que mais me marcou foi uma bicicleta oferecida pelos meus avós, teria eu cinco ou seis anos. e marcou-me porque foi com ela que aprendi a andar, tendo eu conhecido duas fases distintas da minha vida logo de seguida: uma primeira em que caía de três em três metros, o que levou os meus joelhos a terem mais buracos que a estória que duarte lima contou à polícia brasileira; e uma segunda, em que passei a andar com aquelas rodinhas de apoio, que fez com que todo o bairro pensasse que era autista.»
joaquim monchique, actor
«foi uma máquina de projectar filmes e uma caixa de filmes do charlie chaplin que a minha avó me ofereceu. era como ter cinema em casa, só para mim! de tal maneira que a minha mãe pintou a parede de branco só para projectar os filmes!»
martim cabral, jornalista
«é fácil: foi o ipad, no ano passado! nunca li tanto na vida. vou almoçar com ele regularmente e até vejo televisão britânica na casa de banho… um mundo na mão!»
paula lobo antunes, actriz
«não penso em termos materiais… o melhor presente foi mesmo a carta de admissão no curso de teatro, em londres. foi no natal de 1997 e estava em casa com a minha mãe, quando a recebi. estava a acabar o curso de ciências médicas em edimburgo e já tinha sido rejeitada por várias escolas, pois não tinha formação nenhuma, portanto, quando recebi esta carta foi dos momentos em que me senti mais feliz e realizada e não há valor para quantificar isso.»
maria ana bobone, fadista
«devo confessar que tive muita dificuldade em dizer qual o presente que mais gostei, recebido no natal. isto porque não me lembro de alguma vez ter recebido nada de muito imponente nesta data. venho de uma família tradicional portuguesa bastante numerosa, em que o relevo dado à quadra natalícia tem a ver com valores de união familiar; o estarmos juntos, o estarmos solidários uns com os outros, e não necessariamente os presentes. assim, estes são sempre coisinhas simbólicas que significam apenas ‘lembrei-me de ti, toma lá umas meias!’, e fica cumprido o dever. no entanto o que sinto, e que me emociona todos os anos, é a força que tem uma família unida, e no meu caso, uma família toda ela muito musical, que canta a várias vozes em frente ao presépio, envolvendo todos os elementos numa espécie de causa comum hipnotizante, de homenagem às tradições, numa união transcendente de almas e corações. é quente, acolhedor, forte e maravilhoso. este presente recebo sempre e é, sem dúvida, o de que mais gosto.»
antónio zambujo, fadista
«o nascimento do meu segundo filho, no ano passado.»
ricardo ribeiro, fadista
«a prenda que mais gostei de receber foi uma pista de carros. os meus pais tiveram alguns natais em que não foi possível dar-me esse brinquedo, pois era necessária roupa. e quando mo ofereceram foi uma alegria enorme.»
victor gama, músico
«o melhor presente de natal que recebi até hoje foi uma bicicleta oferecida pelo pai natal. foi mais o fascínio provocado pela certificação da sua existência que me comoveu, e de sentir que ele, tão grande e distante, se pudesse lembrar de mim, tão minúsculo. ainda hoje acredito nele.»
josé avillez, chefe de cozinha
«o melhor presente que recebi foi, sem dúvida, o meu filho josé francisco que nasceu muito perto do natal, em 2009.»
don kikas, músico angolano
«a melhor prenda de natal que recebi e aquela que mais marcou foi um piano de brincar, muito bonito e com um som fantástico. tinha 10 anos.»
paulo alves, dj
«há um ano ou dois, o meu filho ofereceu-me um kit do benfica. foi sem dúvida o meu melhor presente de natal.»
depoimentos recolhidos por:
raquel carrilho, josé fialho gouveia, filipa moroso, maria francisca seabra e ricardo nabais-.