o fim de um ano apela sempre a um balanço. difícil de fazer, este de 2011, depois de tantos e tão importantes acontecimentos que marcaram o nosso viver colectivo: coisas boas e más, sendo que nas primeiras poderemos inscrever todas as que significam progresso para a humanidade e nas últimas as tragédias, umas incontroláveis – como o destrutivo terramoto que fustigou o japão – , outras mais dependentes da intervenção humana – como é o caso da crise financeira que se abateu sobre o mundo e que, no caso do continente europeu é, fundamentalmente, um cruzamento entre uma falha genética no euro e a crise das dívidas soberanas (esta última muito induzida pela crise de 2008).
já no domínio propriamente da política, porventura aquilo que mais marcou o ano que agora termina, foi a primavera árabe. este acontecimento é verdadeiramente extraordinário. ainda não sabemos se a sua evolução caminhará no sentido da transformação democrática que pretendeu realizar mas, não há dúvida que permitiu provar que, quando se luta por um objectivo colectivo verdadeiramente mobilizador, há forças interiores que são capazes de vencer outras, à partida, muito superiores e, aparentemente, inderrotáveis.
esta realidade deveria ser objecto de reflexão. na verdade, os países da união europeia – e não apenas aqueles que se encontram em programa de ajuda financeira, como é o caso de portugal – debatem-se hoje com uma tragédia humana de enormes proporções, que outro nome não pode ter o desemprego. e não apenas o desemprego da mão-de-obra desqualificada e das pessoas mais velhas, com algum passado contributivo para a segurança social, mas, sobretudo, o desemprego dos jovens altamente qualificados que não conseguem qualquer inserção no mercado de trabalho. a organização internacional do trabalho vem alertando, insistentemente, para o risco da frustração que esta situação determina.
no caso de portugal, este problema tem ainda contornos especiais. a aposta que nos últimos anos se fez no sentido de vencer o atraso formativo dos nossos recursos humanos tinha como uns dos seus objectivos finais mudar o paradigma do nosso modelo económico. associada a um nunca antes visto investimento em i&d e a um reforço da articulação entre as instituições do ensino superior e as empresas, a orientação pretendida visava mudar estruturalmente a nossa economia no sentido da sua modernização e competitividade. infelizmente, tudo isto parece ter sido um esforço inglório. a economia não se tem revelado capaz de absorver esta mão-de-obra cada vez mais qualificada e o governo, ao contrário do que devia, coloca todos os seus esforços ao serviço do enfraquecimento da relação de trabalho, como se isso pudesse resolver os nossos problemas de competitividade, e chega a encarar a emigração dos mais qualificados como a única forma de resolver o problema da sua não inserção no mercado de trabalho.
é evidente que sempre constituiu e sempre constituirá uma forma de enriquecimento pessoal e profissional o contacto com outra gentes e outras culturas ou outras experiências formativas. mas isso deve ser uma opção pessoal e não uma orientação política. caso contrário, é o país que deita fora o seu sangue novo, aquilo que o pode regenerar e levar no sentido do desenvolvimento e do crescimento económico, para podermos honrar com brilho os nossos compromissos financeiros.
tão alarmante quanto isto, a falta de capacidade que os líderes europeus têm demonstrado, quer para resolver atempadamente os problemas da governação económica da união quer para relançar as suas próprias economias. de acordo com dados do center for economics and business research, depois de, há meses, a china ter ultrapassado o japão como 2.ª economia do mundo, foi agora a vez do brasil ultrapassar o reino unido, com o progressivo enfraquecimento dos países tradicionalmente mais fortes da união europeia, como a alemanha, a frança ou a itália.
a europa nunca se fortalece economicamente quando enfraquece o seu modelo civilizacional, ao contrário do que muitos dizem pensar. a prova está à vista. mais de seis décadas – como nunca antes na sua história – de paz, bem-estar e desenvolvimento. para manter esse standard, a europa têm que ser capaz de recriar respostas novas para problemas novos também. designadamente, no domínio fiscal. quando mais de metade da economia mundial circula por paraísos fiscais, escapando à justa tributação e iludindo o controlo que deve garantir a transparência e licitude das transacções, algo vai mal, mesmo muito mal, no domínio da capacidade das políticas para garantir a justiça e o desenvolvimento equilibrado.
os meus votos para 2012 vão, naturalmente, no sentido de que sejamos capazes de caminhar no rumo certo: sem falsas esperanças mas com uma mensagem mobilizadora e realizável, onde não caiba a palavra desistir.