o governo acordou com a troika concentrar a quase totalidade do ‘pacote’ de privatizações no próximo ano, em vez de o dispersar ao longo do período do programa de assistência financeira (2011-2014), como estava inicialmente previsto.
esta alteração irá tornar 2012 ‘o ano das privatizações’ em portugal e marcará a saída quase total do estado da economia. em meados de 2014, quando terminar o programa da troika, a única posição relevante do estado na economia será a caixa geral de depósitos, na banca. de resto, energia, águas, telecomunicações, transportes ou comunicação social estarão em mão de privados, provavelmente de empresas de fora da união europeia.
em 2012, o executivo de passos coelho irá privatizar cerca de quatro mil milhões de euros em activos estratégicos, cerca de 70% do total do plano de privatizações, orçado em 5,5 mil milhões, segundo os documentos da segunda revisão da troika a portugal.
o plano inicial, assinado em junho, contemplava receitas de privatizações de dois mil milhões de euros este ano e em 2012. o atraso nas operações e a falta de condições de mercado levaram o governo a concentrar as vendas em 2012. no plano original da troika, o executivo propunha-se privatizar a ren e a tap até final de 2011. nenhuma destas operações se concretizou.
contas feitas, a troika irá obrigar o executivo de passos a privatizar mais num ano do que sócrates privatizou em cinco (ver quadro). para além da conclusão da venda dos 21% da edp já em janeiro, o governo quer alienar a ren até julho e a tap no quarto trimestre de 2012. em 2012 avança também a venda de um dos canais da rtp e da águas de portugal.
este plano de privatizações de 5,5 mil milhões de euros será o último de grande dimensão em portugal e reflecte «a quantidade limitada de activos nas mãos do estado que podem ser vendidos sem uma reestruturação», escrevem os credores externos, na segunda revisão do programa português. o plano de privatizações na grécia, por exemplo, é de 50 mil milhões de euros, dez vezes mais que o português.
nos últimos 20 anos, o estado vendeu quase 30 mil milhões de euros em empresas públicas e participações em sectores estratégicos. nos primeiros anos, foram as empresas portuguesas as principais compradoras, seguidas das europeias. com a crise da dívida soberana, são agora países emergentes, como a china, o brasil ou angola, os principais candidatos a adquirir posições que abrem portas ao controlo de sectores como energia, águas e transporte aéreo. a three gorges ‘ganhou’ a edp e outras empresas chinesas já revelaram interesse na ren, por exemplo.
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