o estudo foi realizado por investigadores do instituto biomédico de investigação da luz e imagem – ibili, da faculdade de medicina da uc e, segundo uma nota hoje divulgada, trata-se da primeira investigação mundial sobre os efeitos desta droga na fisiologia da retina.
«havia inúmeros estudos sobre os danos que esta droga provoca no cérebro mas nenhum a nível da fisiologia da retina», afirmou, em declarações à lusa, francisco ambrósio, coordenador do estudo, agora publicado na revista científica americana ‘ploss one’.
a investigação, desenvolvida nos últimos quatro anos, teve como ponto de partida precisamente saber-se que o ecstasy causa toxicidade no cérebro, tendo em conta que «a retina também faz parte do sistema nervoso central, pois está ligada ao cérebro através de um nervo ótico que, se for cortado, provoca cegueira», explica o cientista.
ao administrarem em ratos «uma dose única, elevada, de ecstasy», os investigadores observaram que o eletrorretinograma (comparável ao eletrocefalograma, que regista a actividade eléctrica do cérebro) apresentava alterações, que persistiam 24 horas após o consumo.
o que os investigadores procuram agora é perceber os efeitos do consumo regular de ecstasy, ou seja, se doses mais baixas mas consumidas regularmente têm o mesmo impacto, tendo em conta dois padrões de consumo: o jovem que toma a droga diariamente e que o faz apenas aos fins-de-semana.
mas para os cientistas do ibili avançarem para esta segunda fase da investigação «precisam de financiamento» que «até ao momento não está assegurado», disse à lusa francisco ambrósio.
no estudo inicial, foi comparada a fisiologia da retina dos ratos «drogados» com a de outros a quem foi aumentada, de forma artificial, a temperatura corporal.
o aumento da temperatura corporal é um dos efeitos das metanfetaminas e anfetaminas (grupo que inclui o ecstasy), que causam também danos nos neurónios serotonínicos (associados ao humor e bem estar) e têm ainda impacto ao nível cardíaco e do controlo da respiração, referiu.
«os ratos a quem tínhamos aumentado a temperatura, passados três horas, apresentavam alterações na retina semelhantes às detectadas nos ratos a quem administramos ecstasy, mas após 24 horas, apenas estes ainda tinham alterações na fisiologia da retina», disse o especialista em ciências da visão.
as alterações observadas, acrescenta o investigador, são essencialmente ao nível dos fotoreceptores, as células que captam a luz que chega à retina e transmitem para o cérebro um impulso nervoso (faz com que o cérebro reconheça a imagem) e que nos permitem ter percepção e acuidade visual.
lusa/sol
