Entrevista com Olivier: ‘ASAE devia ter postura menos destrutiva’ [vídeo

Há 12 anos que se dedica à restauração, mas hoje Olivier considera-se mais empresário do que chef. O seu restaurante Guilty esteve debaixo do fogo da ASAE por questões de licenciamento.

diz que em 12 anos nunca teve incidentes com a asae…

nunca. em todos os encontros que tivemos com a asae podia haver uma ou outra coisinha, mas sempre resolvemos tudo. de repente, desde que o guilty abriu e me meti no mercado da noite, e porque o guilty passou a ser o hot spot da noite, passou-se tudo isto!

acha que foi perseguição à sua pessoa.

alguma vez se ouviu falar de um estabelecimento que foi visto e revisto 11 vezes no espaço de um mês e meio? não tenho culpa de aquilo encher e ter sucesso. claro que foi perseguição! os problemas estavam a ser resolvidos e eles sabiam disso. pusemos um processo na câmara de lisboa para licenciamento como restaurante-bar. entretanto tenho uma reunião com o secretário-geral da asae que me diz que, para ficar tudo bem, tenho de pedir o licenciamento para restaurante-bar com espaço de dança. refiz os processos e ele, sabendo disso, mandou-me deter porque as pessoas estavam a dançar. quando nessa reunião ficou combinado que não poderíamos mexer nas mesas nem ter bailarinas no balcão e tínhamos de fechar às 2h, mas se as pessoas dançassem, não havia problema. mesmo assim vieram-me prender. foi uma das razões por que a juíza me absolveu. se o secretário-geral combina uma coisa e no dia a seguir manda-me prender, é complicado.

em tempos disse que havia muito ciúme à sua volta. passou-lhe pela cabeça que outros chefs estivessem envolvidos?

não têm força. sou amigo deles todos, dos que interessam, o ljubomir, o sá pessoa, o avillez… há um que nem sei o nome, que ouvi dizer que diz mal de mim, mas não tenho nada contra ele. no dia em que tiver é melhor ele sair do país. sei que houve durante muito tempo uma facção contra o olivier. no outro dia o cristiano ronaldo disse que as pessoas diziam mal dele porque é bonito, o melhor jogador do mundo, rico e tem as mulheres atrás dele, e as pessoas têm ciúmes. não é o mesmo caso, mas a verdade é que os meus restaurantes têm mais sucesso. não acredito que, se os outros restaurantes tivessem um problema destes, tivessem a onda de solidariedade que eu tive.

esperava tanto apoio?

não. recebi milhares de mensagens! o que acho triste é que o país esteja no estado em que está e a asae ainda não percebeu que tem de mudar. a asae fez coisas boas nos primeiros cinco anos, porque isto era uma balda. até eu, apesar de ser um gajo chato e perfeccionista, não fazia metade do que hoje faço. mas a asae também fez muita coisa má, destruiu coisas nossas, como o arroz de cabidela e as bolas de berlim. a asae devia ter uma postura menos destrutiva.

mas não acha normal que os espaços tenham de ter licenças de funcionamento?

ninguém diz o contrário, mas estamos há um ano a pedir! e a câmara também não tem culpa, porque há tanta burocracia que é normal que se atrase. peço um papel ao igespar e demoram 20 dias a pronunciar-se. depois o governo civil demora mais 20 dias, a psp mais 20 dias… se forem dez entidades a 20 dias cada, é quase um ano!

uma situação destas põe em causa o seu percurso?

foi bom porque tive publicidade gratuita e a opinião pública do meu lado. mas podia ter corrido mal, porque quando as pessoas ouvem dizer que a asae fechou um restaurante pensam logo que foi por falta de higiene.

entre gerir restaurantes e todas estas confusões, ainda tem tempo de ir para a cozinha?

já não vou para a cozinha há muito tempo. o olivier cozinheiro acabou em 2005. deveria estar focado em criar, na qualidade do serviço, em abrir mais restaurantes, mas estou focado em defender-me de coisas que não fiz. deveria ser jubilado por fazer coisas positivas para o país e estou a ser recriminado. isso é que está mal. o guilty é conhecido a nível internacional! tenho gente do luxemburgo que apanha um avião só para vir jantar ao guilty!

o seu lado empreendedor vem desde miúdo?

aos 11 anos já vendia bombinhas de carnaval aos amigos. depois vendi t-shirts de marca com pequenos defeitos que ia buscar a um sítio que vendia mais barato. e vendi pranchas de morey boogie, motas, cabazes de natal… e depois restaurantes.

quando é que percebeu que o seu futuro passaria pelos restaurantes?

não tenho um dia na minha vida em que não tenha vindo a um restaurante. o meu sonho era ter sido jogador de golfe como o tiger woods, mas não foi possível. cheguei a ser campeão, mas nessa altura não havia ainda apoio nem tradição por parte da federação.

acabou por seguir o exemplo do seu pai, michel…

não… o meu pai é mais artista, é mais virado para a comida e menos para o negócio. eu sou mais virado para o negócio e menos para a comida. vou abrindo restaurantes à medida que vou encontrando conceitos diferentes.

não corre o risco de se esquecer do essencial, a comida?

não, todos os dias estou nos meus restaurantes e como aqui. tudo o que não está bem volta para trás. e tudo o que se come nos meus restaurantes é feito por mim, só que, como tenho tanta coisa para tratar, não posso estar na cozinha.

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raquel.carrilho@sol.pt