Jornal Público teve ‘lucros’ de 16 milhões de euros

O jornal Público, do Grupo Sonaecom, teve lucros antes de impostos de 16,3 milhões de euros em 2010, segundo o relatório e contas da publicação, ao qual o SOL teve acesso. O resultado deve-se ao facto de «a empresa ter sido vendida a uma outra do Grupo», por 18,8 milhões, lê-se no documento.

estes resultados causaram estupefacção junto dos trabalhadores do diário, pois a publicação tem apresentado sucessivos resultados negativos. em 2009 os prejuízos fixaram-se em 4,3 milhões. fontes próximas do processo revelaram que esta questão foi abordada em reuniões entre trabalhadores e administração, tendo a equipa liderada por ângelo paupério justificado a operação financeira «com questões meramente fiscais».

a empresa que comprou o público comunicação social s.a. – que detinha até agora o diário – é a pcj – público, comunicação e jornalismo, s.a. e foi criada apenas para realizar esta operação financeira, segundo o sol apurou.

questionada, a sonaecom, que respondeu através de fonte oficial, disse apenas que a operação «consistiu na transferência da marca público entre empresas integralmente detidas pelo grupo sonaecom e teve como objectivo único criar uma maior eficiência na gestão da referida marca».

contudo, por ter efectuado esta ‘engenharia financeira’, o público pagou 658.200 euros em impostos sobre o rendimento. caso não tivesse realizado esta operação, teria registado prejuízos e tornaria nulos os impostos sobre esse exercício. apesar das diversas tentativas para obter mais esclarecimentos junto do grupo controlado por paulo azevedo, tal não foi possível até ao fecho da edição.

a venda do público a uma empresa dentro do grupo criada para o efeito permitiu à publicação distribuir 311.657 euros «como montante afecto a distribuição de lucros pelos colaboradores da sociedade».

o administração da sonaecom apresentou recentemente um plano que previa a colocação de 21 trabalhadores do jornal em suspensão de contrato (lay off) temporária. os trabalhadores apresentaram uma alternativa: redução de custos salariais de 800 mil euros, através de cortes entre os 3% e os 21%, dependendo do salário bruto. ontem à noite, a comissão de trabalhadores considerou «o processo encerrado, após mais de 90% dos trabalhadores» terem concordo com os cortes.

frederico.pinheiro@sol.pt