o agrupamento de estrelas associado à formação ou à representação de uma figura é uma invenção humana com milhares de anos, mas só em 1930, quando a união astronómica internacional dividiu o céu em constelações, é que estas se tornaram universais.
o físico dá o exemplo da divisão do mundo em países. «do espaço, essas divisões geográficas não são visíveis, mas eles existem por razões culturais, políticas e económicas». para guilherme de almeida, o estabelecimento de fronteiras entre determinados grupos de estrelas também ajuda ao seu estudo – das 88 constelações reconhecidas, cerca de 67 podem ser avistadas de portugal.
para os antepassados, existiam grupos de estrelas que pareciam ter formas de aspectos do quotidiano, o que explica que esses ‘desenhos’ tenham nomes de animais ou de figuras mitológicas. «sobre as nossas cabeças desfilam heróis, mitologias e aventuras criadas antigamente para melhor recordar e conhecer o céu». para o físico, essas histórias «têm apenas o sabor da recordação, mas podem ainda ser usadas para orientação», como faziam os marinheiros que, acrescenta, «descobriram muitas constelações».
mas estas surgiram também como forma de identificar as estações do ano: a cada uma corresponde um céu diferente.
«a posição do sol em relação às estrelas altera-se gradualmente no decurso do ano. é por isso que a parte do céu visível à noite, e à mesma hora, é diferente consoante a época do ano em que nos encontramos», explica o autor do livro o roteiro do céu.
as estrelas de inverno são as que se vêem entre as 21h e as 24h de uma qualquer noite a meio desta estação. ao observar-se as estrelas na madrugada de uma noite de inverno está já a ver-se as que se revelarão na primavera entre as 21h e as 24h.
no frio do inverno, «a transparência do ar pode ser fantástica». e olhando na direcção norte vê-se a ursa maior, um dos padrões mais reconhecidos no céu. a sua fácil visualização é útil para descobrir a estrela polar que, ao contrário do que se pensa, «não é a estrela que mais brilha».
essa honra pertence a sírio, que fica na constelação cão maior, em homenagem ao companheiro de caça de orionte.
gigantes e às cores
a ursa maior é uma das constelações que pode ser vista durante todo o ano, variando apenas a sua posição. as suas sete estrelas, que formam uma espécie de carroça, são apenas algumas das que constituem a real constelação da ursa maior. é o que se chama um asterismo, o mesmo se passa com as três marias, que fazem parte da constelação orionte.
ao redor deste trio, também ele facilmente encontrado, podem observar-se quatro estrelas mais brilhantes que desenham um quadrilátero quase rectangular, com pontos de cores diferentes.
«a mais avermelhada, no vértice superior esquerdo é betelgeuse, uma super-gigante do tamanho da órbita do planeta marte». no extremo oposto destaca-se rígel, «uma estrela gigante branco-azulada, belatrix ocupa o vértice superior direito e do lado oposto encontramos saiph», explica, mostrando ao sol no céu do planetário calouste gulbenkian, em belém, lisboa, onde ficam as estrelas de que fala.
seguindo o alinhamento das tais três estrelas para cima e para a direita, «encontra-se um ponto alaranjado, aldebarã, a estrela mais brilhante da constelação touro [que o caçador orionte enfrenta], representando um dos olhos deste animal».
orientação a olho nu
no entanto, o rei do céu de inverno tem um rival do qual tem de se esconder, de cada vez que este aparece. quando surge a constelação do escorpião, que segundo a lenda foi enviado para matar o grande caçador, orionte desaparece do céu. as duas constelações nunca são visíveis ao mesmo tempo.
as histórias e as lendas são muitas e o fascínio por elas é ainda maior, o que levou o planetário a convidar o especialista em astronomia para apresentar esta sexta-feira, às 21h30, uma palestra, em que fala destes e de outros mitos do céu de inverno.
a entrada é livre e os cerca de 330 visitantes podem aprender a identificar novas constelações e até mesmo a orientarem-se por elas, sem recurso a qualquer equipamento de observação.
guilherme de almeida construiu muito novo, aos 16 anos, o seu primeiro telescópio, mas considera que nada é melhor do que o conhecimento do céu a olho nu.