Anedotas atrevidas

É admissível uma senhora contar anedotas atrevidas numa reunião de amigos? Judite Taborda.

sim e não. as anedotas são oportunas para quebrar o gelo, ou animar reuniões e ambientes, mas há uma regra sagrada: é preciso saber contá-las. e há várias maneiras de contar bem uma anedota.

primeiro, é preciso ter a graça: alguma desenvoltura de conversa, um discurso corrido, comunicabilidade. não há nada mais triste do que uma anedota mal contada. muitas vezes, aquilo a que chamaríamos uma história ‘verde’, ou sem graça, torna-se divertidíssima na boca de certas pessoas. estou a lembrar-me de histórias muito engraçadas contadas pelo raul solnado, com aquelas expressões dele e a gaguez tão bem administrada – e depois ficavam ‘verdes’ na boca de outro qualquer.

quando há um atrevimento a sério, há que ver bem o ambiente e quem ouve. uma anedota de homossexuais, se há suspeita de algum presente, só pode ser contada pelo próprio homossexual (como acontecia com rupert everett, em o casamento do meu melhor amigo). devem evitar-se, portanto, temas que levantem susceptibilidades. a graça implica subtileza e nunca alarvidade. só pode contar uma anedota muito atrevida, como dizem as princesas alessandra borghese e gloria von thurn und taxis, no seu dicionário de bons costumes, «entre pessoas do mesmo sexo, e com intimidade». feiíssimo, por outro lado, é interromper o prazer de contar uma anedota, dizendo que já a conhece.

mas quem somos nós para dar lições de moral, numa reunião animada? se não queremos ouvir alguma coisa, levantamo-nos e vamos apanhar ar.

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