no centro das acusações estão as intervenções de garzón em dois processos judiciais. um deles, um caso de corrupção com o desvio de dinheiros públicos pelo meio, e que envolve deputados do partido popular (pp), actualmente no governo, valeu-lhe uma acusação de ter violado a constituição espanhola.
fotogaleria: as imagens dos protestos que se uniram à porta do tribunal em madrid.
o outro, por abrir um inquérito ao desaparecimento de milhares de pessoas durante a guerra civil espanhola e o regime de franco, constitui-o arguido por alegado abuso de poder. este par de acusações, junto ao seu historial de luta pelos direitos humanos e de ter ordenado a captura ao ditador chileno augusto pinochet, espoletaram a indignação em espanha.
dezenas de pessoas gritaram e exibiram cartazes de apoio a garzón esta terça-feira à porta do tribunal de madrid, onde o juiz compareceu, ladeado pela polícia, à sua primeira audiência. «estão a encobrir os seus crimes ao irem atrás do garzón», lia-se num dos cartazes, como descreveu a bbc. um manifestante disse mesmo que «é uma absoluta corrupção» e que «quem o merecia não está a ser julgado».
o protesto reuniu cerca de 200 pessoas, escreve o el país, e nos gritos ecoaram outras palavras como «linchamento» ou «escândalo», aliadas a expressões como «fascistas, fora!», fizeram-se ouvir à chegada de baltasar garzón ao tribunal. um cenário que um manifestante retratou de forma sucinta: «este é um mundo ao contrário: fascista e corruptos a julgar um juiz».
a demonstração de apoio desta terça-feira teve origem na plataforma ‘solidário com garzón’, que no facebook já ultrapassou os 60 mil seguidores. o el mundo destacou igualmente as opiniões de apoio a um magistrado «que não deixa ninguém indiferente». «sinto vergonha que espanha tenha uma justiça assim», confessou uma mulher em lágrimas, enquanto um homem lamentava o processo «contra alguém que defendeu o direito de todos [os espanhóis]».
porém, das pessoas questionadas, houve vozes que se afastaram do apoio a baltasar garzón. «há que garantir as leis», sugeriu um dos inquiridos, antes defender que o juiz «deve ser julgado e condenado como qualquer cidadão».«meteu-se onde não era chamado», explicou outra mulher, antes de exigir que garzón «seja julgado, e ponto final».
entre mensagens de apoio, lamento ou contestação, surgiram palavras que lançaram suspeitas quanto à possível motivação política da acusação. «parece que há por trás um interesse político mais do que outra coisa qualquer», soltou um dos manifestantes.
certo é que, no centro do ‘caso gürtel’, nome conferido ao escândalo de corrupção onde garzón terá alegadamente violado a constituição espanhola, estão envolvidos vários deputados regionais do pp, partido que, sob o leme de mariano rajoy, tomou posse do executivo espanhol em dezembro.