barack obama vai bater-se contra o vencedor das primárias e da convenção republicana. neste momento, os republicanos apresentam-se divididos em várias famílias políticas – moderados, libertários e conservadores. as únicas coisas que os unem são a política fiscal, a contenção da despesa pública – querem menos e melhor estado – e derrotar obama.
o novo presidente será eleito num tempo muito semelhante ao que precedeu a eleição e o primeiro mandato de ronald reagan: um tempo marcado pela percepção sombria da decadência da américa e do papel da américa no mundo, sem falar das dificuldades económicas e sociais internas.
os empates técnicos do iraque e afeganistão, a dívida astronómica de quinze triliões de dólares, a ascensão da china, a perda relativa de influência internacional, a clivagem ideológica no país, contribuem para essa percepção da crise e do mal-estar.
em 1980, reagan foi a solução possível entre republicanos establishment e anti-establishment, evitando a ruptura. neste momento as coisas são mais difíceis: romney é demasiado liberal, para ser reagan; newt gingrich tem um currículo familiar complicado para ser bem aceite pela ‘moral majority’. ron paul é um velho libertário, um ‘alien’ para um país que, apesar de tudo, tem de manter o complexo militar-industrial.
estas circunstâncias, uma boa campanha no terreno, um estilo directo e popular podem explicar o sucesso de rick santorum.
o ex-senador da pensilvânia é de origem ítalo-irlandesa e um católico convicto e praticante. faz uma política confessional, uma coisa rara pelos padrões europeus, mas comum na américa do revivalismo cristão. para santorum a religião é a base de valores que aplica na vida pública e pessoal.
isso faz dele o que os liberais – os políticos e os jornalistas – gostam de chamar um ultraconservador.
santorum é contra a liberalização do aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo, defende uma política de apoio à família e à natalidade e insiste na importância dos factores culturais da vida económica. é um defensor dos direitos dos trabalhadores e ao contrário dos seus correligionários libertários e centristas, apoiou várias medidas solidaristas de extensão de benefícios sociais.
quanto às questões de defesa, política internacional e segurança interna, as suas posições são de direita ‘pura e dura’, com algum simplismo e até falta de realismo, por exemplo quanto ao médio oriente.
não tem dinheiro, nem estrutura. mas as suas chances cresceram depois do sucesso das primárias de iowa, beneficiando da desconfiança dos evangélicos em relação a romney (que além de milionário é mórmon) e a gingrich. a maioria dos republicanos norte-americanos são religiosos e conservadores, o tea party mobilizou-os. mas como há vários candidatos dessa etiqueta – gingrich, santorum, perry, bachmann –, romney tem ficado à frente.
é nestes termos que se vai travar, nas próximas semana, a batalha pela nomeação republicana que é também, a batalha pela ‘alma’ e pela definição do partido republicano. seja quem for o vencedor, é importante que seja escolhido em dois meses na super tuesday.
nas sondagens obama perde em novembro para qualquer ‘candidato republicano’. mas por ora bate todos. com o desemprego em 8,5%, apesar de alguns sinais de recuperação da economia, e a convicção crescente no eleitorado de que obama não passa de um bom retórico e relações públicas, as chances dos republicanos são substanciais.
como escreve no spectator desta semana patrick allit, «only one thing can save obama now – his hopeless rivals».