a oposição aos projectos de lei, dividida entre opiniões de especialistas, deputados norte-americanos e internautas, perfila a luta contra a pirataria online e abuso dos direitos de autor, simbolizada pelo sopa e pipa, como o inimigo para a internet tal como hoje a conhecemos.
o ‘stop online privacy act’ e o ‘protect ip act’ estão a agitar os eua, apesar de pouco noticiados deste lado do atlântico. os últimos dois dias foram repletos de novidades: ao ‘apagão’ liderado pelo wikipédia, na quarta-feira, seguiu-se a detenção, na quinta-feira, de quatro funcionários do megaupload, um site de partilha de conteúdos. no mesmo dia, um ataque do grupo anonymous a várias frentes, que chegou a colocar offline o site do fbi.
links: as duas leis que ameaçam a internet.
a serem aprovados, os projectos de lei teriam implicações que poderiam levar ao encerramento de sites de partilha como o google, facebook ou youtube. mas, e enquanto as leis ainda não passam de projectos, milhões de pessoas em todo o mundo continuam a usufruir da internet como sempre a conheceram: livre e partilhada.
o risco de «um mundo demasiado pequeno e limitado»
mas e se tudo mudasse? se não mais fosse permitido usar o facebook para partilhar vídeos que gostássemos ou imagens que nos inspiram? ou que não pudessemos ir ao youtube para ouvir canções?. «seria uma grande desilusão», lamentou diogo belo, ao imaginar uma versão da internet contrária à que, aos 23 anos, sempre conheceu. «ponderava mesmo acabar com a internet em casa», confessou.
de uma maneira ou de outra, qualquer aluno do ensino secundário ou universitário terá já recorrido a sites como o wikipédia ou o motor de busca da google para potenciar os seus trabalhos académicos. uma comodidade, hábito, ou solução de recurso, a sua função varia consoante os usos mas, sem esses dois sites, carlota montenegro diz que «deixaria de olhar para a internet como um acessório tão positivo».
a aluna de um mestrado em comunicação explica que o seu percurso «não teria sido tão aberto e diversificado se não tivesse recorrido quase diariamente a informações recolhidas na internet». simão castro, outro mestrando, declarou que teria mesmo sido «um percurso mais ignorante e menos informado».
a visão é partilhada por maria froes, igualmente a frequentar um mestrado em gestão industrial, ao abordar o eventual fim do wikipédia ou google como algo que seria «complicado especialmente para trabalhos, pois não haveria tanta facilidade em pesquisar e encontrar informação ao segundo».
a previsão de uma internet pós-sopa e pipa
os riscos do sopa e pipa pairam também sobre as redes sociais, como o facebook ou twitter. hoje em dia frequentados diariamente por milhões de pessoas em todo o mundo, a natureza deste tipo de sites assenta na partilha de informação entre os seus utilizadores. fotografia, imagens ou vídeos, um pouco de tudo vai sendo partilhado ao sabor da vontade dos utilizadores.
mas e se a sony não quisesse ver canções dos seus artistas a serem partilhadas pelo facebook fora? ou se a warner brothers não gostasse de ver os títulos dos seus filmes a circular em mensagens de twitter? estas são apenas algumas questões que estão a acompanhar as previsões de uma eventual internet à mercê das novas armas para combater o copywright.
aí, os sites teriam que controlar ou apagar tais conteúdos, ou arriscavam-se a ser ‘desligados’ por esses gigantes da indústria musical ou cinematográfica. um cenário que o sopa e pipa poderiam tornar possível, caso sejam aprovados, em respectivo, pela câmara dos representantes ou pelo senado norte-americanos. algo que colocaria em risco «o grande propósito, essência e finalidade da internet», que simão castro relembrou ser «a partilha de informação».
ainda se desconhece se tal cenário é possível, ou sequer provável, caso ambos os projectos de lei sejam aprovados. as discussões em torno de uma internet pós-sopa e pipa continuam repletas de dúvidas e previsões arriscadas.
mas, a confirmarem-se as profecias mais negras, a internet poderia mesmo ser «um mundo sem informação livre», como a wikipédia sugeriu.