Bebés Reborn: Mães que fingem um amor que deveras sentem [vídeo

Trocam-lhes fraldas, dão-lhes biberões, aquecem-nos em dias de frio e investem em cadeirinhas de segurança para os poderem transportar de carro. «A minha bebezinha é a coisa mais linda do meu mundo», revela a brasileira Sónia Maria, de 47 anos, no seu blogue. «Os meus dias ficaram mais felizes e mais iluminados depois desta bebé».…

a técnica chama-se reborn e é um sucesso em todo o mundo, especialmente nos estados unidos, brasil e inglaterra. mas o que a tornou mediática, com a bbc a dedicar-lhe um documentário, jornais a noticiarem vários casos ou o americano dr. phil a dedicar-lhe um programa, foi o surgimento de inúmeros casos de mulheres na casa dos 30 e 40 anos a tratarem estes bonecos como crianças.

os reborn custam entre os 200 e os 500 euros e, talvez por isso, as crianças não sejam os clientes mais frequentes. coleccionadores, pré-adolescentes e mulheres de meia idade são quem mais aprecia estes bonecos. nos muitos casos em que a fronteira da fantasia se rasga pela realidade, encontram-se ‘mães’ que passeiam os seus ‘bebés’ em carrinhos reais, compram cadeirinhas para o automóvel, gastam fortunas em roupas, têm berços, preparam biberões, sussurram na hora de embalar e têm sites, blogues ou vídeos no youtube onde exibem todos estes momentos de uma maternidade inventada.

o comportamento destas progenitoras chega mesmo a colocá-las em situações embaraçosas. uma ‘mãe’ brasileira, tereza, conta que foi insultada no aeroporto por passageiros que a viram colocar o seu «filhote bruce no tapete de raio-x» e que foi multada por circular com as suas «filhas dalila e domingas no banco da frente do carro». há mesmo o caso de uma americana que, depois de deixar um dos seus bonecos na cadeirinha do carro estacionado e trancado, se deparou com a polícia e várias pessoas em pânico por pensarem tratar-se de um bebé verdadeiro. valeu-lhe uma repreensão das autoridades, alguns insultos e umas tantas gargalhadas.

nos sites de partilha de vídeos, o fenómeno ganha uma dimensão mais evidente. todos os dias surgem imagens novas. encontram-se ‘progenitoras’ com dicas e partilhas de experiências de todo o género, como a ‘mãe’ que ensina a dar biberão de forma mais realista, outra que divulga imagens do seu filho adolescente a passear o ‘irmão’ reborn num centro comercial, uma mulher que revela toda a rotina antes de a sua ‘bebé’ grace se deitar no berço ou uma ‘mãe’ que num supermercado se vê rodeada de uma dezena de curiosos que fotografam e querem tocar no falso rebento.

yvonne walters, uma das artistas plásticas que cria reborn, disse ao britânico the sun que é muitas vezes contactada por mulheres que querem encontrar um substituto para bebés reais e até por outras que encomendam réplicas de filhos que morreram.

reborn portugueses

a técnica reborn também existe em portugal. maria luísa luzio, de 54 anos, foi a primeira portuguesa a fazer e a vender estes bonecos. o avô tinha uma loja de brinquedos em lisboa e cresceu rodeada dos mais inovadores e cobiçados objectos de brincadeira. da mãe herdou a paixão pelas bonecas e já adulta, durante uma viagem ao brasil, deixou-se encantar por um bebé reborn. gastou cerca de 400 euros e mais tarde aprendeu a técnica que trouxe para portugal.

o processo é artesanal e minucioso, o que torna cada boneco único. o molde em vinil chega dos estados unidos, assim como as tintas e acessórios. no final, os bebés são vestidos com roupas da marca portuguesa laranjinha, com a qual fez uma parceria.

maria luísa tem várias clientes. muitas já compraram dois e três bonecos. a empresária, que faz estes ‘bebés’ como passatempo, conta que há aficionadas de todo o género. mais reservadas do que as brasileiras ou as inglesas, nenhuma ‘mãe’ portuguesa quer revelar a relação que estabelece com os seus ‘bebés’. há coleccionadoras que têm centenas de bonecos e que se limitam a juntar os novos membros à exposição. há as que os usam como peça decorativa, as que os compram para oferecer às filhas pré-adolescentes ou as que encomendam réplicas dos netos quando eram recém-nascidos. maria luísa garante que também há em portugal quem se levante meia hora mais cedo para trocar a roupa do bebé, para evitar que este fique de pijama todo o dia.

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andreia.coelho@sol.pt