a pintora falou à agência lusa na fundação calouste gulbenkian em paris, entre as três dezenas de obras, pintadas entre 1988 e 2009, que ficam aqui expostas a partir de quinta-feira e até 1 de abril.
sobre a sua casa das histórias, inaugurada em setembro de 2009, em cascais, e já visitada por mais de 300 mil pessoas, paula rego afirmou que «a casa em si é uma maravilha, muito bonita», mas vive «com imensas dificuldades porque não há dinheiro para manter o museu como deve ser».
«gosto muito, muito [da casa]. o pior é que não há dinheiro em portugal, não há dinheiro em sítio nenhum… e nós vivemos com imensas dificuldades. [é difícil, por exemplo], arranjar exposições boas para irem para lá, mesmo de autores portugueses, mesmo exposições pequenas, que não custem muito dinheiro», disse.
ainda assim, a vontade não desarma. paula rego garante que o passar dos anos não a fez abrandar o ritmo ou pintar de forma diferente. ironiza que ainda «pinta com as mãos e não com os pés», sorri e reconhece depois que, agora, tem «menos força».
«quando é preciso agarrar nos quadros e pô-los mais altos ou mais baixos já preciso de ajuda. mas de resto não sinto diferença. se estou doente só começo a pintar às 11h, se não, começo às 9h ou às 10h e vou até às 19h», acrescentou.
a casa das histórias vai acolher, a partir do dia 7 de julho, o resultado de um «desafio» que partiu da artista adriana molder, nascida em 1975 e residente em berlim: é um diálogo dentro do mesmo espaço, desenhado para contar a história da ‘dama pé de cabra’, a lenda popular que alexandre herculano pôs em livro.
sobre este trabalho, paula rego diz apenas que a história «é muito curiosa e muito difícil» e que a sua ‘dama pé de cabra’ tem os pés a arder: «eu já comecei e está a tornar-se noutra coisa. começa-se assim e torna para outro lado. já voltou e vai tornar a voltar. não sei onde vai acabar. assim é que é bom», afirmou.
na gulbenkian de paris ficam pinturas, gravuras e desenhos feitos num período de «grande maturidade artística da autora», explicou helena de freitas, directora da fundação paula rego/casa das histórias, co-organizadora da iniciativa.
«a exposição não é retrospectiva, nem respeita uma ordem cronológica. é uma exposição que, de alguma forma, entra no campo das emoções. todo o potencial emocional está muito presente. é uma exposição forte, com obras densas, bonitas», acrescentou.
no centro da sala, e nas costas de paula rego durante toda esta conversa, esteve o anjo (1998), a mulher que segura com uma mão a espada, com a outra uma esponja. o seu anjo, como lhe chama, vestido com uma saia sua e uma camisa de seda da sua avó: «este anjo é o fim. fi-lo para ser um anjo bom, que salvasse… e disse: ‘este não vendo, é para mim’».