o último a sair
num jantar com amigos, falámos inevitavelmente do naufrágio do costa concórdia. como tinham feito um cruzeiro num barco desta mesma companhia, quisemos saber pormenores da viagem. contaram que, quando fizeram a simulação obrigatória de naufrágio, com todos os passageiros a bordo, foi uma enorme confusão. ficou evidente que se numa simulação era difícil evacuar as pessoas com calma e em ordem, ainda mais complicado seria salvar alguém numa situação de naufrágio. só soube outro pormenor depois desta conversa. não fazia ideia de que o célebre ‘mulheres e crianças primeiro’ é uma prioridade mais ou menos recente. até meados do século xvii, a crença geral era a de que só deus era dono do nosso destino. li na slate que esta convicção absolvia os que sobreviviam em desastres naturais ou não. traduzido na prática, ninguém levava a mal ser passado por cima por quem corria mais depressa para se salvar. só com o iluminismo e o dever de protecção da família (mulher e filhos) tudo mudou. não está escrito em lado nenhum, no entanto, que o comandante tenha de ser o último a sair ou que tenha de ir ao fundo com o barco. mas sabemos que schettino conhecia bem esta parte.
libertação feminina
a série televisiva homeland, vencedora do globo de ouro de melhor série dramática, tem uma heroína bastante improvável. claire danes, ela própria vencedora do globo de ouro de melhor actriz em série dramática com o papel desempenhado em homeland, é carrie mathison, oficial da cia que não confia num prisioneiro americano libertado pela al-qaeda. logo no primeiro episódio percebemos que carrie está certa na sua intuição. ficamos a saber também que é doente bipolar. a primeira tentativa de criar uma heroína televisiva não perfeita foi nurse jackie. nancy botwin, de weeds, apesar do contexto, é equilibrada e temperada. mas o descontrolo em geral não é permitido às heroínas de séries de televisão. pensemos na sobriedade de alicia florrick. gostamos dela assim, casta e fria, ao mesmo tempo que ansiamos por que solte a franga. parece que é agora. mesmo assim, alicia não é uma mulher perturbada. é inteligente, íntegra e comum. nem provocada chegaria ao excesso de carrie mathison. agora, sim, estamos perante uma mulher complicada, emotiva, despenteada. ainda por cima não é demasiado bonita, nem muito simpática. vamos ver se a domesticam. espero que não.
a importância de um pai
as listas de acções ou de supermercado são promessas a cumprir. fazemo-las para não nos esquecermos daquilo que queremos fazer ou comprar. todas as listas são, na verdade, de intenções. no fim de cada ano, é comum fazermos até listas de conselhos a nós mesmos. é um bocadinho ridículo. o melhor é deixar essa lista em particular a cargo de quem gosta de nós. foi o que fez o escritor f. scott fitzgerald, que, em 1933, terminou uma carta à filha, frances scott ‘scottie’ fitzgerald, de 11 anos, com uma lista de coisas com que se devia preocupar (quatro), outra de coisas com que não se devia preocupar (várias) e uma outra, breve, de coisas em que devia reflectir. é engraçado, embora não seja surpreendente, que scott fitzgerald não impinja à filha os conselhos habituais a meninas. pelo contrário, não queria que se preocupasse, por exemplo, com rapazes, nem com bonecas, nem com o passado, nem com o futuro. preferia que frances se preocupasse com a coragem, a higiene, a eficiência e a equitação. os motivos de preocupação da filha deviam ser práticos e nobres, porque só estes lhe permitiriam ser livre. vale a pena ler este testamento precioso em listsofnote.com.
a sorte deste homem
não me lembro de quem disse que pedro passos coelho era pior candidato do que seria primeiro-ministro. seja quem for que o afirmou (só espero que não tenha sido ângelo correia), está a ter razão na sua previsão. desde o estranho caso da tentativa de eleição de fernando nobre que a sorte tem acompanhado o primeiro-ministro. ter sorte é bom, mas nem todos sabem tirar partido dela. é preciso reconhecer o momento favorável e saber tirar o máximo proveito dele. com fernando nobre, passos coelho deixou que o problema se resolvesse por si, não se envolvendo excessivamente no fracasso que afinal fora o resultado de uma escolha sua. há dias, ouvimo-lo a elogiar o presidente na república pela sua intervenção no acordo de concertação social. nesse mesmo dia cavaco silva desabafava ao país que a sua pensão mal chegava para as despesas. aproveitando a onda da lamúria presidencial, passos coelho, que reconhecera o esforço do presidente, repetiu o discurso dos sacrifícios para todos, adoptando subtilmente o lado da maioria que não suportou ouvir aquelas palavras. os dias infelizes de uns são os dias de sorte dos que sabem que há desabafos que ninguém entende nem perdoa.
sim mas não
porque é que os mais inteligentes geralmente são feios? a resposta é que a pergunta de 2011 da slate não corresponde à verdade. há, no entanto, a ideia de que as pessoas inteligentes tendem a ser feias. desde o início do século xx que o tema é estudado. vários estudos concluíram que os mais bonitos são mais inteligentes do que os feios. mas não é bem assim. as pessoas feias ou bonitas tanto podem ser estúpidas como inteligentes. claro que, nestes casos, é a própria inteligência que fica por definir. uma pessoa inteligente incapaz de interagir com os outros pode induzir em erro. parece feia e pode nem ser. por outro lado, para mal de muitos mortais, existem os seres fisicamente maravilhosos e super-inteligentes. pode ser genético. os homens inteligentes atraem as mulheres bonitas. mas também é verdade que nem sempre as virtudes genéticas são repartidas como se deseja. outra teoria aponta para as crianças bonitas serem por norma mais apoiadas por pais, professores e colegas, o que proporciona um bom ambiente para a aprendizagem e o desenvolvimento das capacidades intelectuais. mas ajuda à apatia. por isso, feios, não desesperem. e belos, continuem a estudar.